O SKA (Square Kilometre Array), o maior radiotelescópio do mundo, começou a ser construído esta segunda-feira, momento assinalado na África do Sul e na Austrália, os dois países onde começará por ter as suas antenas espalhadas.
Contudo, segundo o jornal Expresso, esta iniciativa irá passar pelo Alentejo, uma participação coordenada pela Agência Espacial Portuguesa.
“Em Barrancos, vamos ter a funcionar protótipos de demonstração dos sistemas de controlo de energia renovável que vão ser usados pelas várias antenas do SKA. Apenas na África do Sul e na Austrália têm sistemas destes em demonstração. Esta demonstração vai decorrer até junho”, explica Domingos Barbosa, investigador do Instituto de Telecomunicações de Aveiro (IT-A), e coordenador do Engage SKA, que representa parte do contributo científico para este radiotelescópio intercontinental.
A demonstração que vai ser instalada na vila alentejana de Barrancos valeu um investimento da Agência Nacional de Inovação de cerca de 1,5 milhões de euros para o consórcio Smart Glow, que é liderado pela empresa DST.
Além disso, o IT-A vai fornecer uma plataforma que distribui recursos computacionais através da Internet (cloud computing) para o tratamento de dados científicos e o apoio à prestação de serviços de empresas que participam na construção e na manutenção do SKA. E a esta ferramenta haverá ainda que juntar os contributos de empresas portuguesas como a Critical Software ou a Atlar que já garantiram contratos avaliados em cerca de três milhões de euros.
Depois de alguns anos de impasse, Portugal assinou o tratado internacional do SKA em março de 2019. “A participação portuguesa irá, sem dúvida, crescer ao longo dos anos”, começa por prever Claudio Melo, gestor de projetos científicos da Agência Espacial Portuguesa (AEP), que é responsável pela representação portuguesa no SKA.
A integração de cientistas, engenheiros e empresas nacionais perfila-se como uma das missões que a AEP pretende concretizar nos próximos tempos. “E isso aplica-se não apenas aos dados que o Observatório SKA virá a disponibilizar, mas também a todo o trabalho de preparação que está em curso há mais de uma década, e que irá continuar, para que a academia a indústria portuguesas tenham capacidade para participar ativamente na construção do observatório e, mais tarde, liderar projetos científicos”, refere Claudio Lemos.
José Afonso, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, destaca que “é fundamental o país estar nestes projetos internacionais desde o início. Em jeito de comparação, é mais ou menos como ajudar a definir o destino de um autocarro, em vez de estar à espera de apanhar boleia de um autocarro já com destino definido”.
Para os astrofísicos que pretendem estudar as primeiras galáxias, que se formaram há cerca de 13,4 mil milhões de anos após o Big Bang, o SKA faz toda a diferença. Além de longínquas no tempo, as primeiras galáxias ficam também demasiado distantes para serem observadas por telescópios de lentes óticas. Em contrapartida, os radiotelescópios conseguem captar sinais luminosos ou eletromagnéticos que podem ter sido emitidos por estrelas ou outros corpos celestes que, durante o tempo exigido para uma travessia tão grande, deixaram de existir.
“Esses sinais levam muito tempo a chegar cá [à Terra] e quando chegam são muito débeis. Para podermos identificar esses sinais precisamos de radiotelescópios mais sensíveis (como o SKA)”, acrescenta José Afonso.
Na África do Sul vão operar 204 antenas parabólicas, enquanto na Austrália serão montadas mais de 131 mil antenas dipolos, que captam as frequências mais baixas, explica o consórcio do SKA em comunicado.
Segundo Domingos Barbosa, “as localizações das antenas foram decididas pelo facto de se encontrarem em territórios pouco povoados e que, por isso, têm baixas interferências eletromagnéticas. São locais onde não há muitos micro-ondas, telemóveis ou até motorizadas”.
Com os dados recolhidos pelo SKA, os astrofísicos poderão desvendar segredos das galáxias e também poderão obter mais ensinamentos sobre a Teoria da Relatividade Geral, tornada famosa por Albert Einstein, ou até de reforçar o contributo para a expansão da humanidade.
“Os dados recolhidos pelo SKA também vão ser úteis para criar sistemas de navegação interplanetários e detetar a exoplanetas com campos magnéticos similares aos da Terra, que é um dos requisitos de habitabilidade”, refere Domingos Barbosa.
Além de Portugal, o SKA conta como membros fundadores Austrália, África do Sul, Reino Unido, China, Itália, e Países Baixos. Este ano juntou-se a Suíça. Em breve deverão juntar-se o Canadá, a França, a Alemanha, a Índia, o Japão, a Coreia do Sul, Espanha e Suécia.
“Este projeto já é seguido de perto pelo G20 (Grupo das maiores 20 economias do mundo). Trata-se de uma excelente oportunidade para a diplomacia científica e para o estabelecimento de boas relações entre elites e cúpulas de diferentes países. E por isso o SKA também é seguido pela UNESCO e já mereceu uma resolução de apoio do Parlamento Europeu”, conclui o coordenador do Engage SKA.
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