10 Outubro 2020      10:24

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Madam Patchouli

Quando se é uma lady, é-se uma lady em todos os sentidos da palavra. Nada dessas músicas que se cantam por aí de uma lady na mesa e outra coisa noutros sítios.

Madam Patchouli era uma dessas senhoras que o é em todos os sentidos da palavra. Sempre requintada, sempre atenta aos pormenores, Madam Patchouli vivia numa quinta, praticamente isolada do resto dos habitantes. Perto dessa quinta havia uma grande cidade, à qual Madam Patchouli evitava deslocar-se. Não era fácil o seu contacto com outros seres, dada a sua timidez crónica. Lutava contra esse traço da sua personalidade. Não conseguia facilmente sobrepor-se ele. Tentava, tentava sempre. Para compensar a sua timidez e outros aspetos da sua personalidade a que nos referiremos adiante, Madam Patchouli andava sempre arranjada impecavelmente. Em casa, na rua, no seu largo alpendre, na cidade movimentada, nos seus aposentos, nunca deixava de estar com um penteado deslumbrante, com uma maquilhagem exclusiva, onde o seu batom vermelho sobressaia.

Madam Patchouli tinha cabelos longos, grisalhos, Madeixas pretas, madeixas brancas. Era lindíssima, mas tinha um problema. Um enorme problema que jamais tinha conseguido superar. Recorrera a terapias tradicionais e alternativas, a hipnose, a psiquiatria e nada. A sua fobia social não passava de forma nenhuma e não havia maneira de transformar esse medo em algo produtivo.

Madam Patchouli evitava contacto social pois os resultados eram sempre desastrosos. Recordo-me daquela vez em que, numa situação de stress, a pobre senhora se viu numa situação de claustrofobia tão intensa que culminou numa intoxicação de todas as centenas de pessoas que se encontravam naquela festa. A sorte é que muitos, ou a grande maioria, estava a usar máscara! Isto poderá de alguma forma ter diminuído os efeitos perniciosos e secundários do evento. 150 pessoas foram internadas num serviço de urgência e desinfeção do Hospital mais próximo.

A verdade é que Madam Patchouli, consequência da sua natureza e patologia, sofria de ataques acutíssimos de flatulência num grau inimaginável. Era quase um ataque nuclear cada vez que uma situação limite se aproximava de Madam. E não havia forma de contornar essa realidade. Durante meses não saiu de casa depois desse episódio. A realidade da sua condição batera-lhe à porta mais uma vez! Um passo em falso, uma situação inesperada e pum...