12 Agosto 2019      12:40

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Má gestão ou má-fé?

Pardal Henriques, representante do SNMMP

Tem hoje início mais uma greve dos motoristas de mercadorias pesadas.

Uma greve que tem estado na ordem do dia mais pelos protagonistas dos dois sindicatos que continuam a recusar negociar do que propriamente pelas reivindicações reais dos motoristas.

Temos na origem destas greves um Sindicato criado por um advogado um mês antes de convocar a greve de Abril.

Um advogado que continua a mandar no Sindicato mas que, por razões deontológicas não pode ser seu Presidente.

Juntamente com este sindicato temos o Sindicato Independente dos Motorista que, nas palavras do seu próprio porta-voz acabou por se descair e dar a entender que a greve não seria desconvocada mas não iria durar mais que dois ou três dias.

Pelo meio temos os motoristas, muitos deles discordantes com a greve em virtude das enormes conquistas já conseguidas no contrato coletivo de trabalho de 2018 e que já vieram dizer que a reivindicação dos 900 euros mensais (aos quais acrescem subsídios e ajudas de custo no valor de quase mil euros) não é exequível nem corresponde ao acordado.

Resumindo, temos dois sindicatos com sede de protagonismo político e pessoal a descredibilizar toda uma classe profissional.

Felizmente a opinião pública portuguesa está atenta a este jogo político e não desvaloriza os motoristas.

Sendo responsáveis por Sindicatos, estes protagonistas deveriam de saber que uma negociação não se começa com uma greve, nem se faz com reivindicações como: “ou aceitam os 900 euros, ou continuamos em greve”.

Uma negociação faz-se com a apresetação de propostas por ambas as partes por forma a que a sua exequibilidade possa ser analisada e, caso não seja, se tentem encontrar soluções alternativas.

Outras reivindicações não se conhecem e certamente algumas até poderiam ser válidas e concretizáveis na verdadeira defesa dos interesses dos motoristas de mercadorias.

O direito à greve é um direito de todos mas, tal como todos os direitos, o seu recurso de forma abusiva e de má-fé deverá ser punido ou, neste caso, prevenido com todos os meios possíveis.

Pessoas que criam sindicatos para convocar greves demonstram não só má-fé como desrespeito pelos trabalhadores que dizem representar.

“Nem um passo atrás” gritam estes sindicatos?

Com estas atitudes não terão já dado vários passos atrás naquele que deveria ser o seu objetivo principal – a defesa dos reais interesses da classe que representam?

Imagem de capa de International Lawyers Associated - Advogados RL