Tem hoje início mais uma greve dos motoristas de mercadorias pesadas.
Uma greve que tem estado na ordem do dia mais pelos protagonistas dos dois sindicatos que continuam a recusar negociar do que propriamente pelas reivindicações reais dos motoristas.
Temos na origem destas greves um Sindicato criado por um advogado um mês antes de convocar a greve de Abril.
Um advogado que continua a mandar no Sindicato mas que, por razões deontológicas não pode ser seu Presidente.
Juntamente com este sindicato temos o Sindicato Independente dos Motorista que, nas palavras do seu próprio porta-voz acabou por se descair e dar a entender que a greve não seria desconvocada mas não iria durar mais que dois ou três dias.
Pelo meio temos os motoristas, muitos deles discordantes com a greve em virtude das enormes conquistas já conseguidas no contrato coletivo de trabalho de 2018 e que já vieram dizer que a reivindicação dos 900 euros mensais (aos quais acrescem subsídios e ajudas de custo no valor de quase mil euros) não é exequível nem corresponde ao acordado.
Resumindo, temos dois sindicatos com sede de protagonismo político e pessoal a descredibilizar toda uma classe profissional.
Felizmente a opinião pública portuguesa está atenta a este jogo político e não desvaloriza os motoristas.
Sendo responsáveis por Sindicatos, estes protagonistas deveriam de saber que uma negociação não se começa com uma greve, nem se faz com reivindicações como: “ou aceitam os 900 euros, ou continuamos em greve”.
Uma negociação faz-se com a apresetação de propostas por ambas as partes por forma a que a sua exequibilidade possa ser analisada e, caso não seja, se tentem encontrar soluções alternativas.
Outras reivindicações não se conhecem e certamente algumas até poderiam ser válidas e concretizáveis na verdadeira defesa dos interesses dos motoristas de mercadorias.
O direito à greve é um direito de todos mas, tal como todos os direitos, o seu recurso de forma abusiva e de má-fé deverá ser punido ou, neste caso, prevenido com todos os meios possíveis.
Pessoas que criam sindicatos para convocar greves demonstram não só má-fé como desrespeito pelos trabalhadores que dizem representar.
“Nem um passo atrás” gritam estes sindicatos?
Com estas atitudes não terão já dado vários passos atrás naquele que deveria ser o seu objetivo principal – a defesa dos reais interesses da classe que representam?
Imagem de capa de International Lawyers Associated - Advogados RL