27 Julho 2018      16:33

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Livros, heróis e heroínas

Quando nos cruzamos com um livro, quer seja numa livraria, supermercado, biblioteca, ou noutro qualquer lugar mais inusitado, encantamo-nos pela capa, ou desencantamo-nos pelo rosto.

A capa é uma espécie de conteúdo manifesto do livro, uma espécie de ponta do iceberg da obra, à imagem da metáfora freudiana sobre o consciente e inconsciente humano.

Claro que a verdadeira riqueza do texto está no próprio texto, não na capa, não no título, não na dimensão do nome do autor.

As palavras que cosem a narrativa são a alma da obra, são elas que conferem a dimensão mágica ao livro, são elas que nos transportam para mundos infindáveis, para universos fantásticos, repletos de heróis e vilões, de príncipes e princesas.

São as palavras e as frases que formam o conteúdo latente do livro, aquele conteúdo que está para além da aparência da capa, aquele conteúdo que nos faz, de facto, gostar ou não gostar de um texto que conta uma história.

Um livro é um mundo por descobrir, é um brinquedo que quer brincar, é uma história que quer ser contada. São vidas, façanhas de pessoas e lugares, dramas, comédias, aventuras, amores, paixões. Um livro é emoção. Um livro é tudo isso e pode ser muito mais.

Mas também pode não ser. Um livro pode ser mudo, apático, egoísta, triste, inerte. E para ser isso tudo, basta que permaneça esquecido numa prateleira velha, ou entalado numa estante ergonómica como peça decorativa. Basta que fique agrilhoado, só podendo mostrar o conteúdo manifesto, a capa, a contracapa e a lombada, a exemplo da princesa que foi transformada em sapo e que espera e desespera pelo beijo do herói libertador…

Em época de festas livreiras, sejamos os heróis e as heroínas dos livros, libertando-os das estantes, dos baús, das livrarias, das bibliotecas… e devolvendo-lhes o sentido da existência, devolvendo-lhes o poder de educar, o poder de transformar, o poder de emocionar.

 

Imagem de capa de Toa Heftiba Şinca