1 Janeiro 2023      11:48

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Linda de Suza, ou a nossa mala de cartão

Começa o ano de 2023. 2022 foi, à semelhança de muitos outros anos que o antecederam, e muitos outros que o seguirão, um ano repleto de acontecimentos bons e maus. Talvez mais maus que bons, neste especificamente.

2023 começará cheio de esperança, de boas novas, de desejos de prosperidade e felicidade. Aquilo que todos nós desejamos e que, lá para meio do ano, percebemos que as coisas não vão ser bem assim.

O ano de 2022 foi um ano de muitas partidas. Gente que nos deixou fisicamente durante este ano, mas que pelo seu legado, continuará a estar presente no nosso quotidiano, nas coisas que ficam. Ao mesmo tempo, tantos outros nasceram durante os 365 dias que, num futuro mais ou menos distante (já cá não estarei), serão assinalados também na sua partida. É essa a ordem natural das coisas. Se assim não fosse, ainda Camões e Pessoa estariam vivos e, decerto, ninguém os veneraria como ícones do passado.

Linda de Suza, de seu nome Teolinda Joaquina de Sousa Lança, natural de Beringel, nasceu a 22 de fevereiro de 1948. Todos a conhecemos pelo seu nome artístico, pela sua história de vida, pela sua ida para França e por se tornar, quer se goste ou não, de um dos maiores ícones da música portuguesa e retrato da alma do imigrante luso em França.

Recordo-me, desde bem jovem, de ouvir no gira-discos do meu padrinho os vinyls de Linda de Suza. Neles, a saudade dos tempos passados em França, mas também as dores sentidas nos pesados dias, na dolorosa saudade da distância de cá lá, e da proximidade que a voz de Linda lhes trazia. Linda de Suza era uma estrangeira num país que a acolheu. Todos nós portugueses acabamos por ser estrangeiros nos países que nos acolhem, sendo tão locais como os locais que lá estão.

A sua história é tão semelhante à de tantas e tantos que, apenas com uma mala de cartão, foram a salto para muitos outros continentes. Linda de Suza cantou, na sua voz que será sempre lembrada, a saudade de ser, a saudade de estar e a saudade de voltar. Ir com uma mala de cartão e regressar para uma casa já construída, fruto da mala quase vazia que se levou.