8 Agosto 2021      11:14

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Juntos Pelo Sudoeste diz que nova legislação para agricultura intensiva é “velha”

O movimento Juntos Pelo Sudoeste considera que a resolução do Conselho de Ministros, de 27 de julho, que prevê a criação de regimes de certificação de produção sustentável abrangendo as vertentes ambiental, económica, laboral e responsabilidade social, para as explorações de agricultura intensiva, é “nem mais, nem menos do que uma sobreposição de regimes jurídicos”, uma vez que essa certificação já estava prevista, apesar de não ser aplicada.

De acordo com o movimento, citado pelo portal Sul Informação, esta resolução, que abrange as culturas de olival e amendoal do Alqueva, as culturas protegidas no aproveitamento hidroagrícola do Mira e a cultura de abacate do Algarve, “define orientações e recomendações relativas à informação e sustentabilidade da atividade agrícola intensiva”, determinando, no número 9, a criação “de regimes de certificação de produção sustentável e abrangendo as vertentes ambiental, económica, laboral e responsabilidade social”.

O movimento considera que esta resolução “configura nem mais, nem menos do que uma sobreposição de regimes jurídicos, ou seja, ‘do velho se faz novo’ sem que o ‘velho’ tenha sequer sido devidamente aplicado. Vejamos: o regime jurídico da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) – transposição de legislação comunitária, nomeadamente a Diretiva 2011/92/EU do Parlamento Europeu e do Conselho de 13 de dezembro de 2011, preconiza exatamente a avaliação da vertente ambiental, económica, laboral e até de responsabilidade social de determinado projeto”.

No caso dos projetos agrícolas do Perímetro de Rega do Mira, que é, simultaneamente, Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e Rede Natura 2000, este instrumento “tem sido constantemente contornado quando mais devia ser utilizado”, diz o movimento.

Por outro lado, “o Programa Setorial Agrícola do Perímetro de Rega do Mira também define, desde 2007, no seu número três, que ‘deverá ser estabelecido um processo de certificação ambiental para a área do PRM, a atribuir em função do cumprimento de um caderno de encargos a definir’ e o próprio Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (POPNSACV) refere, desde 2011, que ‘deve ser estabelecido um processo de certificação ambiental para a área do Perímetro de Rega do Mira, a atribuir em função do cumprimento de um caderno de encargos a definir pela entidade concessionária com a colaboração do ICNB [atual ICNF]’”.

O JPS lembra ainda que, “em qualquer caso, dentro da hierarquia do direito, uma resolução de Conselho de Ministros não afasta um decreto-lei, como é o caso do decreto-lei que institui a Avaliação de Impacte Ambiental”.

Para o movimento, mesmo que o objetivo desta resolução do Conselho de Ministros seja o “de criar um mecanismo, paralelo, menos exigente, que os produtores (nomeadamente, mas não exclusivamente os do Sudoeste) possam usar para dizer que as suas explorações são ‘avaliadas’ dos pontos de vista ambiental, económico, laboral e da responsabilidade social”, esse mecanismo, “não terá legitimidade, uma vez que já existe o referido regime de AIA que continuará a não ser cumprido”.

No mesmo comunicado, o JPS “apela à aplicação rigorosa de AIA sobre todas as explorações agrícolas do Sudoeste Alentejano, as quais estão a ser deliberadamente omitidas perante o peso do lobby da agricultura e, no concreto caso do Sudoeste Alentejano, por todas as entidades públicas com autoridade no PNSACV, que sacodem constantemente entre si as responsabilidades para reporem um equilíbrio ambiental, paisagístico e social nesta região”.

Além disso, o movimento recorda que foi constituído “como reação à incúria e falta de zelo do Estado Português em preservar um valioso património ambiental ecologicamente sensível, supostamente com elevado estatuto de proteção, mas que tem sofrido fortes ameaças aos seus valores naturais”.

Estes valores estão a ser “violados e comprometidos irremediavelmente, de forma galopante, a um ritmo de 200 hectares de novas explorações e 2 000 mil novos trabalhadores em cada ano que passa destruindo por completo os valores que fundamentam o estatuto deste território e consumindo o bem mais precioso para a sobrevivência: a água que escasseia”.

Este uso abusivo da água prejudica “outros setores económicos, assim como todos aqueles que vivem em Odemira e Aljezur e rejeitam o caminho de subdesenvolvimento que tem vindo a ser trilhado”, conclui o comunicado.

 

Fotografia de vozdaplanicie.pt