4 Abril 2020      13:51

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Julho

Nos primeiros dias do mês, Eloísa sentiu que uma vida florescia dentro de si. Estava grávida. Começaram os enjoos mas, ainda assim, não eram suficientes para ponderar o que estava a viver.

Julho é um mês muito quente em Beja. Apesar de ser uma cidade que apaixona, em julho não há muito a fazer e o trabalho de Eloísa era inexistente. A fantasia em que vivia desligou-a de tudo, não completamente mas tornou-se segundo plano.

Pablo parecia já um alentejano. Tinha-se adaptado bem naquele mês. Já conseguia dizer algumas coisas em português e tinha aquele sotaque típico nosso do Baixo Alentejo, aquele que eu e tantos, com as nossas subtilezas, partilhamos. Pablo estava bem adaptado. Eloísa estava feliz que Pablo estivesse adaptado em Beja. Aquele sonho que as pessoas têm sobre como será a sua vida, era o sonho que ela mantinha. E Pablo, embora não o conheçamos bem, era também personagem fundamental na continuação desta história.

Ele continuava a fazer o seu trabalho e os seus negócios à distância. Cada dia que passava ficava mais rico. Não eram negócios escuros. Pablo era um empresário imaginativo, com start-ups e tinha os requisitos todos para material de casamento. Eloísa sabia e isso tinha-a mudado de forma tal que o leitor só perceberá nas próximas edições.

Pablo, numa dessas noites de calor desafiou Eloísa. Queria que ela conhecesse o seu país. Queria que ela viajasse com ele até ao seu país, que conhecesse a sua família e fizesse parte da sua vida. A vida constrói-se muitas vezes a dois, passando a três, quatro, cinco e muitos mais. Os filhos são a nossa continuação, somos nós em corpos diferentes. Eles, muitas vezes rebelam-se, mas continuam a ser a continuidade. Muitas vezes os pais não entendem que a continuação dos seus genes sofre mutações e não é necessariamente igual. Mas aquilo que marcou o mês de julho foi a decisão de Eloísa em acompanhar Pablo até às Ilhas Caimão. A notícia deixou Pablo tão feliz que o levou a pedir ao avião privado para os vir buscar e levá-los até a essa ilha paradisíaca. O paraíso esperava-os. Estavam ambos muito felizes com o princípio.

Apesar do calor, deixar Beja não era fácil... era tudo o que ficava atrás, todas as memórias, os cheiros, as cores. Eloísa não estava preparada para começar tudo de novo, mas queria.

À hora marcada, o voo saiu de Beja em direção a um paraíso. Olharam-se, beijaram-se e sorriram em simultâneo. Mas, seria mesmo assim...?

 

Imagem de majhapaper.com