27 Agosto 2019      00:41

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Jacinto-de-água está a matar espelhos de água. Só o Alqueva resiste

Chamam-lhe bela e perigosa e é fácil perceber porquê. Basta olhar para ela para reconhecer tanto a sua beleza como a sua capacidade de se multiplicar de forma surpreendentemente rápida, não fosse uma planta invasora que está a tapar e a matar os espelhos de água em Portugal. Falamos do jacinto-de-água que, gozando de muita luz solar e calor, encontra as condições ideais para cobrir vastas superfícies de cursos de água e destruir todas as espécies autóctones.

Para além dos problemas que está a criar a norte do país tendo invadido metade do rio Sorraia, grandes extensões do Baixo Vouga, como a lagoa Pateira de Fermentelos, bem como o açude do Furadouro (Mora), o rio Mondego e o Cávado, é uma absoluta ameaça no lado espanhol do Guadiana, num combate que envolve já o exército dos nossos vizinhos e uma forte monitorização para que não venha a tomar conta do maior lago articial da Europa, o Grande Lago de Alqueva.

O jacinto-de-água (Eichornia crassipes), espécie exótica invasora, originário das regiões quentes da América do Sul levou já ao “desaparecimento da fauna aquática nativa” no Açude do Furadouro, Ribeira da Raia em Mora, bem no centro do Alentejo.

Filipe Banha, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE_UÉ) que junto com Pedro Anastácio, é responsável por coordenar o projeto europeu “Aquatic Invasive Alien Species of Freshwater and Estuarine Systems: Awareness and Prevention in the Iberian Peninsula” (INVASAQUA), que estuda as ameaças causadas pelas Espécies Não-indígenas, Aquáticas Invasoras dos Ecossistemas de Água Doce e Estuarinos na Península Ibérica, esclarece que Portugal mobiliza “importantes recursos económicos e humanos” para travar o alastramento desta espécie que preocupa quer investigadores, ambientalistas e comunidade local.

O Jacinto-de-Água, uma praga mundial que ameaça rios um pouco por toda a parte, originária da bacia do Amazonas, Brasil, está propagada pelo Guadiana e parece capaz de atingir a barragem de Alqueva. É a propria Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) que a declara  "preocupante e uma ameaça, pois trata-se de uma espécie exótica invasora com elevada capacidade de propagação e consequentemente com elevada capacidade de degradação da qualidade da água".

Para já o controlo da propagação da espécie que é exótica e de crescimento rápido, está a ser possível com recurso a duas barreiras de contenção entre Portugal e Espanha, a primeira colocada em 2012 a dez quilómetros da Ponte da Ajuda e a segunda em 2014 a três quilómetros da albufeira de Alqueva. 

Esta planta propaga-se à superfície das águas e possui um sistema radicular de vários metros abaixo da superfície. Cortá-la é ineficaz, porque ela volta a reproduzir-se, por via do sistema radicular que se mantém intacto.

Por enquanto a EDIA efetua recolhas semanais, sobretudo no tempo quente, o que tem mantido à distância a infestante que impede a entrada de luz solar e a oxigenação das águas, com graves consequências para fauna, flora e, no limite impossibilita o consumo humano ou o uso agrícola da água contaminada. Do lado de Espanha nos últimos verões chegou a recolher-se mais de uma centena de toneladas por dia da planta infestante, que cobria então uma extensão de 75 quilómetros.