Não são apenas águas vibrantes e cristalinas que fluem ao longo dos pegos da Ribeira do Torgal. Escorrem também, no tempo (e na ribeira), múltiplas vidas que animam e embelezam toda a zona ribeirinha deste afluente do rio Mira.
Uma dessas espécies é o escalo do Mira (Squalius torgalensis), um pequeno peixe, de aproximadamente 16 cm que, apesar de estar classificada pelo IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) como Criticamente em Perigo, vai resistindo às mudanças que acontecem no único lugar do Mundo que escolheu para viver. Trata-se, naturalmente, de uma espécie endémica, ou seja, uma espécie que aparece apenas numa área restrita do nosso planeta. No caso deste escalo, a sua zona de ocorrência é apenas o rio Mira, mais especificamente a Ribeira do Torgal.
Desfila a sua raridade entre freixos e medronheiros, exibe a sua unicidade entre sobreiros e amieiros. Domina as águas dos pegos entre enguias e barbos.
Apesar desta espécie estar abrangida pela legislação nacional e internacional de conservação tem sido notório a diminuição da população de escalos-do –Mira nos últimos anos.
Um dos principais fatores de ameaça a esta espécie é a pressão humana feita, por exemplo, através da introdução de peixes que não pertencem à fauna local como os gambúzios e os achigãs. Estas espécies contribuem para a diminuição da população de escalos-do-Mira pois produzem efeitos negativos a nível da competição, predação ou como via de disseminação de agentes patogénicos.
A singularidade dos escalos-do-Mira torna-os valiosos como uma joia…
Muitos perguntarão qual é o valor real destes pequenos peixes que escolheram o sudoeste alentejano para viver.
A resposta é multidimensional: têm valor económico pois a sua raridade pode atrair curiosos e investigadores contribuindo para a dinamização da região; têm valor ecológico pois fazem parte de um sistema no qual as espécies estão articuladas em mecanismos naturais, com importantes funções, tais como regulação do clima, produção de oxigénio, purificação das águas, funcionamento das teias alimentares e muitos outros “serviços” garantidos pelos ecossistemas. Esta espécie tem também valor estético pois as pessoas apreciam o contacto com a Natureza e a observação dos seres vivos no seu estado selvagem. Não pode deixar de ser referido o seu valor ético pois o Homem, como único ser vivo racional a habitar o nosso planeta, tem o dever moral de evitar a extinção desta espécie.
Não são apenas águas vibrantes e cristalinas que fluem ao longo dos pegos da Ribeira do Torgal…São também joias…As joias do Mira.