2 Abril 2017      14:46

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AS IRMÃS BRONTË E O IRMÃO ENCOBERTO

"DESVIOS E RESPECTIVOS ATALHOS: FILMES, LIVROS E DISCOS"

(também por um filme esquecido de André Téchiné)

O ano de 1847 terá sido, como de resto todos, parco em milagres. Mas lá do ponto escondido e de dimensão mais do que provavelmente nula de onde eles vêm, houve lugar a um; um multiplicado por três: foi o ano da publicação de Wuthering Heights, Agnes Grey e Jane Eyre, da autoria de, respectivamente, Emily Brontë, Anne Brontë e Charlotte Brontë, as três manas Brontë.

Perante a soberba de tão excessivo milagre, a 19 de dezembro do ano seguinte, duas delas (Emily, aos 30, e Anne, aos 29) já estavam mortas. Charlotte, a mais duradoira, morreria a 31 de março de 1855, aos 38 anos.

Os milagres, que não deviam existir pois não têm como existir, por vezes lá se mostram, mas não sem tremendos custos. Como um qualquer corpo na orla de um Buraco Negro, só se sobrevive na excepção. Espreitar é vislumbrar o infinito, sim, só que a morte por esmagamento gravitacional é então inevitável. Morte seguramente rápida.

Foi o que lhes aconteceu. Uma, menos rápida que as outras.

Quem também quis, por assim dizer, pertencer ao milagre foi o seu irmão, Patrick Brontë, mais conhecido por Branwell, o nome do meio. Indeciso, andou entre a pintura e a poesia durante imoderado tempo. Nunca encontrou rumo apesar de lhe ser reconhecido talento. Não o suficiente, porventura. Mas como quis pertencer também espreitou, e como tal sobreveio a morte, a 24 de Setembro de 1848, aos 31 anos. Entre Anne e Emily.

Branwell foi o autor do hoje célebre retrato das três irmãs (pintura acima). De início entre elas, depois irreflectida (!?) mas voluntariamente arredado, para sempre o que sempre foi: um espectro. Quanto às irmãs retratadas, vemos que não olham todas na mesma direcção, mas sabemos bem, demasiado bem, para onde olham. Ousaram espreitar o infinito que deveria ter permanecido fora do alcance da vista.

Com as forças mais poderosas do Universo não se brinca, a não ser que tal seja irresistível ou se aspire à eternidade.

 

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