23 Maio 2017      15:28

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INTERIORIDADES

É comumente conhecido que, sempre que se aproximam as eleições autárquicas, as questões das interioridades assumem um lugar de destaque nos discursos mais acerbados.

A quantidade de pensamentos não estruturados, reflexos de ideologias operadas a partir do erro, tornam-se frequentes.

Os defensores dos experimentalismos apoiam-se em toda uma retórica e uma imanência ideológica que, ocasional ou casualmente, fazem com que, por vezes, sinta alguma dificuldade em encontrar as formas lexicais corretas para as definir. Recorro, assim, com alguma assiduidade a pensamentos alheios para poder dar credibilidade aos meus (pois ninguém pensa sozinho).

Por tudo isto dou comigo a pensar: ou os outros ou a verdade.

Precisamos que as verdades se comecem a assumir como tal e que as opções politicas sejam o espelho das racionalidades, mais ou menos consubstanciadas em questionamentos, constituídos no armazenamento de ideias fragmentadas. Todo o conhecimento é fragmentado, ninguém pensa totalidades.

O que fica no entendimento das populações são os discursos mais populistas, apoiados em oralidades escolhidas consoante os ouvidores.

O argumentário dos encaixes não serve ninguém, apenas alude às necessidades mais urgentes e mais visíveis. A não existência de linearidades discursivas, nem de linhas causais bem definidas, transportam os debates sobre a regionalização para a ordem do imperceptível.

Mas novos pensamentos existem dentro de teorias credíveis, basta procurar. Estas teorias transportam-nos para realidades factuais às quais urge responder, na tentativa de se evitar que o interior desapareça de vez.

Fecham-se balcões dos CTT; fecham-se Centros de Saúde; fecham-se dependências bancárias; fecham-se escolas; fecham-se freguesias e já se começam a fechar aldeias.

Nas vidas destas gentes há muito que se perderam as polifonias da sobrevivência.

Vivemos há 43 anos em democracia e a regionalização permanece no campo das miragens. Esta constante passividade de tanto permanecer muda, começa a fazer doer a voz daqueles que teimam em não permitirem que o silencio se instale.

O recurso ao bullshit nos discursos, e o encarar do bem comum como algo de transitório e descartável, só terminará quando existir uma verdadeira participação cidadã, suportada por debates públicos esclarecidos e informados.

Para tal haja vontade.

Nota do Editor: Imagem de capa de divai.pt