6 Janeiro 2017      11:16

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INOVAÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL: 4 GRANDES TENDÊNCIAS PARA 2017

Quanto maior é a velocidade a que o tempo corre, tanto mais difícil se torna imaginar claramente o futuro. Este nunca foi tão incerto como atualmente!” (in Dicionário do Futuro, Norbert Borrmann, 2005)   

Apesar do futuro ser hoje, como já dizia Norbert Borrmann em 2005, tão (ou ainda mais) incerto, atrevo-me, com base na minha experiência pessoal e profissional, a apresentar 4 tendências no âmbito do empreendedorismo e inovação social que me parecem ser, relativamente, certas!

  1. Projetos de Inovação Social Digital – Esta será sem dúvida uma das grandes tendências nos próximos anos. De facto, o ritmo alucinante do desenvolvimento e da integração tecnológica e digital, da realidade virtual, da IoT, da inteligência artificial - a chamada 4ª Revolução Industrial – irá permitir criar novas soluções sociais, com um enorme potencial de crescimento e de impacto em campos tão vastos como a saúde, o envelhecimento ativo, a educação, a cidadania, o ambiente, as migrações, o apoio social, entre outras.

Em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian promove desde 2014 o Hack for Good, iniciativa destinada a criar soluções tecnológicas para resolver problemas sociais, e também a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa lançou, no âmbito da Web Summit 2016, o Santa Casa Challenge, um concurso de inovação social digital para alguns desafios concretos. De referir que também na Web Summit existiu um foco especifico para o health-care, onde foram promovidas várias conferências temáticas e apresentados vários produtos e serviços neste domínio.

Ao nível europeu, a Comissão Europeia, atenta ao potencial desta área, está desde 2012, em parceria com a NESTA, a mapear as várias centenas de produtos e serviços provenientes da inovação social digital, num projeto de investigação alargado. São perto de 800 os projetos já mapeados. Acredito por isso que esta será uma tendência inevitável, e muito necessária, à resolução de problemas sociais.

  1. Respostas às Adaptações Climáticas e de Sustentabilidade Ambiental – As alterações climáticas são hoje cada vez mais evidentes (exceto talvez para os conselheiros de Trump...). Constituem-se hoje num dos principais desafios que a humanidade tem para resolver.

Os grupos de pessoas mais afetados por estas alterações serão, como sempre, os mais pobres (mais suscetíveis às ondas de calor, por não possuírem meios para alternativas), os localizados em zonas ribeirinhas ou costeiras (suscetíveis às cheias), mas também os que vivem no Sul, onde o aumento da temperatura média é cada vez mais evidente e a desertificação física mais ameaçadora.

Face a este contexto, acredito que também em Portugal novas e mais respostas socialmente inovadoras irão começar a surgir neste campo temático, de âmbito local com potencial de escala, como é, por exemplo, o Projeto Rios do Pedro Teiga. Penso ainda que, neste campo especifico, processos de inovação através da biomimética (cópia dos sistemas presentes na natureza e sua subsequente integração em produtos ou processos) será um caminho a percorrer, conforme aliás já vaticinava Steve Jobs: a grande inovação do século XXI estará na interseção entre biologia e tecnologia.

Ainda nesta área, mais iniciativas de inovação social serão desenvolvidas no âmbito dos movimentos da Economia Verde, Economia Circular, Economia Partilhada, Economia Colaborativa, Economia Solidária e outros movimentos similares nos quais, genericamente, o equilíbrio entre os valores económico, social e ambiental pende, claramente, para os últimos dois.

  1. Aumento da Escala das Iniciativas – No último ano assistimos ao crescimento para um nível internacional de 3 iniciativas de inovação social de origem portuguesa, como seja o SPEAK, que nasceu em Leiria e está neste momento em várias cidades portuguesas e muito recentemente em Itália. Para além disso, desenvolveu uma plataforma on-line chegando a qualquer ponto do mundo.

As gomas sem açúcar, sem glúten e sem lactose, desenvolvidas pela Doctor Gummy, que nasceram no Porto, estão hoje em todo o país e em vários países europeus, e por último, e talvez o caso de empreendedorismo social português com maior sucesso, o Color Add, que continua em franca expansão mundial, tendo chegado em 2016 à India.

Esta parece ser uma tendência óbvia das iniciativas de inovação social provenientes do setor não lucrativo e também de algumas startups sociais que começam a emergir. Por um lado, temos a Portugal Inovação Social que desenvolveu um conjunto de instrumentos de financiamento para estimular o crescimento e a escala das iniciativas de empreendedorismo social.

Por último, temos os novos empreendedores sociais a desenvolver serviços e produtos a pensar, como não pode deixar de ser, para o mercado global, alcançando assim maior sustentabilidade e maior impacto social.

Considerando ainda que o estimulo ao mercado de investimento social começará agora a dar os primeiros frutos, estou convicto que muitas iniciativas portuguesas de génese local vão começar a operar a um nível nacional, e outras, com um cariz mais hibrido, irão certamente operar ao nível global.

  1. Desenvolvimento de um Mercado de Investimento Social – Esta será sem dúvida uma área de trabalho, no âmbito do ecossistema de empreendedorismo e inovação social, que em 2017 terá um avanço definitivo em Portugal.

Após o excelente trabalho do Grupo Português para o Investimento Social que resultou na apresentação, em 2015, de um Relatório com orientações muito precisas em 5 grandes áreas (capacitação e competências, instrumentos financeiros, orientação para resultados, inteligência/conhecimento, e ecossistema de intermediários), têm vindo a ser dados outros importantes passos na criação efetiva de um mercado de investimento social.

Destaco a constituição, em 2014, da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), e a publicação da Lei n.º 18/2015 que aprovou o Regime Jurídico do Capital de Risco, do Empreendedorismo Social e do Investimento Especializado, e a consequente publicação do Regulamento da CMVM que permite a introdução em Portugal do investimento social.

A EMPIS, através dos instrumentos de financiamento já lançados (Parceria para o Impacto e Títulos de Impacto Social), que obrigam as organizações a envolver Investidores Sociais nos seus planos de desenvolvimento, dá assim um forte empurrão a este movimento que, muito em breve, terá à sua disposição um relevante envelope financeiro através do Fundo para a Inovação Social. Este irá disponibilizar perto de 95 milhões de euros para cofinanciar iniciativas de inovação social através de empréstimos, garantias, capital e quase-capital.

Para além disso, o Laboratório de Investimento Social, que tem sido o grande centro de competências nesta área, acaba de lançar a Impact Acellerator, uma aceleradora de projetos de empreendedorismo e inovação social destinada a preparar os mesmos para o investimento social. Espera-se por isso que, em 2017, este mercado avance definitivamente!

Espera-se por isso um ano muito positivo para este ecossistema de empreendedorismo e inovação social, continuando os vários agentes a trabalhar para que Portugal também lidere este movimento ao nível europeu, sendo que o ano de 2017 poderá ter a sua cereja em cima do bolo com a realização de uma grande conferência internacional para a Inovação Social à semelhança da Web Summit, anunciada no passado dia 5 de Janeiro por Carlos Moedas, Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, e a Ministra da Presidência e Modernização Administrativa, Maria Manuela Leitão Marques.

Imagem de capa da socinnovation.wordpress.com