19 Maio 2022      12:02

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Individualismo ou Liberalismo?

Wall Street Bull Sculpture

Com a queda da União Soviética em 1991 e consequente derrube dos regimes Comunistas do Leste Europeu, julgou-se que seria o triunfo das democracias liberais, e que o capitalismo fosse sinónimo de Democracia. A par das crescentes desigualdades socioeconómicas a sociedade ocidental tornou-se cada vez mais individualista e focada no objetivo único e sagaz de gerar riqueza.

Os EUA como sociedade pioneira para o restante mundo “civilizado e democrático” sempre se apresentou anti-sindicalista e anti-comunista, gastando fortunas para impedir a criação de sindicatos, como temos agora o exemplo da Amazon, assim como demonstra toda a sua resiliência a pilares de uma sociedade igualitária como sendo um serviço nacional de saúde ou a criação de impostos progressivos como o IRS que tributam salários tendencialmente mais elevados.  O Neoliberalismo à Americana sempre tentou confundir o homem colocando como sinónimos, Socialiasmo e Impostos, ou Socialismo e Ditadura. E de facto, se todos os serviços públicos, desde a saúde a transportes que são alimentados por impostos forem progressivamente depauperados de recursos humanos a qualidade da oferta será diminuta, dando ânimo às vozes que criticam os impostos.

Nunca se discutiu tanto a necessidade de redução da carga fiscal como agora no preço dos combustíveis. Analisando por percentil, grande margem do que pagamos em combustível são impostos, apesar de que se tentamos caminhar para uma sociedade verde e menos dependente de combustíveis fósseis algo tem de ser feito, e infelizmente, a única forma atual de desmobilizar o Homem ao consumo de algo, é colocando-o mais caro. Todavia, e mesmo com a redução do ISP o valor absoluto nos combustíveis não acompanhou esta descida, confirmando-se que não eram os impostos a encarecer mas sim o mercado e a especulação sobre os preços desde a sua refinação a causar a alta dos preços.

Com a recente pandemia do Covid esta militância Liberal ficou mais vincada. Vacinar-me eu para o bem coletivo? Se esta doença só afeta os mais velhos, para que é que eu jovem tenho me privar de movimentos ou ajuntamentos? Muitos peroraram pela necessidade de uma imunização coletiva natural de forma a não pararmos a atividade económica e no pior das hipóteses deixar morrer alguns como sendo os mais frágeis. Com a vacinação, e a “crueldade” de vacinar crianças para proteção dos mais velhos, como se estes, depois de anos de cansaço não merecessem também a maior das nossas proteções, ou como se à nascença todas as crianças não preenchessem o seu boletim de vacinas, vieram a público vozes defender que era um crime colocarmos em risco a saúde das nossas crianças que supostamente nunca iriam passar por dificuldades com a Covid, para proteção das restantes pessoas do seu lar.

Com o passar dos anos foi se inculcando na sociedade termos como colaborador, quando o trabalhador não colabora na gestão da empresa ou na tomada de decisões, mas apenas produz a riqueza que é mal distribuída, que os impostos só servem para privar a liberdade do cidadão face ao estado e não para facilitar uma educação democrática e gratuita criando as bases para que qualquer jovem rico ou pobre possa aceder ao ensino superior, coisa que nos EUA apenas os mais abastados o fazem. De facto é fácil ao cidadão colocar as culpas na tributação, porque é algo que tem por adquirido como sendo a escola pública ou mais recentemente os testes à Covid gratuitos, mas é difícil e pouco tangível pensarmos como seria num país pobre como o nosso vivermos com piores serviços públicos, graças à redução dos impostos, ou com um estado muito menos participativo em matérias de proteção individual ou às empresas. Em suma, o Liberalismo cria uma divisão entre ricos que podem escolher entre serviço público ou privado, e pobres que estão dependentes de serviços públicos que alimentados por impostos devem ser universais e tendencialmente gratuitos.

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana.

Para contactar o autor use alexandremiguel.c95@outlook.com