4 Março 2017      15:39

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A HISTÓRIA ATRIBULADA DE UM MUSEU DOS CRISTOS EM SOUSEL

A história deste projeto de museu é suficientemente interessante para ser contada e começou há mais de 60 anos, com a atividade comercial de Venceslau Lobo, um comerciante de antiguidades natural de Borba, conhecido por "perdigueiro" por ser um antiquário que levava peças ao poeta José Régio, que morava em Portalegre e cuja casa é hoje um museu.

A ideia de fazer um museu com os cristos começou a desenhar-se em 1989 quando a Câmara Municipal de Sousel resolveu comprar aos herdeiros de Venceslau Lobo este espólio de cerca de 1800 peças. O valor então dispendido gerou espanto generalizado. 60 mil contos (cerca de 300 mil euros), o que pode ter contribuído para a ideia popular de "tesouro". Rafael Calado, técnico do Museu Nacional de Arte Antiga foi chamado então para avaliar as peças e o resultado não foi bem o pretendido pela autarquia. Em 2003 dizia ao Público "Todos os cristos que ele (José Régio) não quis, o Venceslau guardou-os num casão, tapou as paredes com eles, pareciam moscas na parede, e ali tinha também arcas com peças soltas".

Rafael Calado considerou a ideia de um museu feito com elas de "irrealizável" por considerar as peças sem interesse artístico ou valor erudito.

Polémicas à parte, as peças acabaram por ficar mais de uma década empacotadas, à guarda da GNR, e, enquanto rodavam pela cadeira da autarquia vários presidentes de câmara, passaram vários anos sem que os Cristos pudessem ver a luz do dia. Entretanto as peças passaram para as mãos da autarquia que mandou restaurar uma parte considerável das peças e foi expondo outras mas sempre com a ideia de vir a construir um museu para elas.

Pois o assunto parece prestes a resolver-se com a intenção do município de Sousel em adaptar e transformar o centro cultural da vila em Museu dos Cristos, num projecto arquitectónico assinado José Kuski Vieira e cujo investimento ronda cerca de 650 mil euros, para ser executado em 6 meses.

Quando forem expostos no museu, os Cristos de Sousel já levam consigo uma história, no mínimo, atribulada.

Nota do editor: Por não termos disponível nenhuma imagem de um Cristo do espólio em questão, utilizámos uma que não pertence à colecção.