30 Novembro 2016      17:07

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HAVERÁ ESPAÇO EM ÉVORA PARA A CRIATIVIDADE?

Évora: para quando um verdadeiro avanço na aposta e promoção da diversidade das indústrias criativas?
 
Uma cidade é feita de pessoas e há um denominador comum entre todas elas: o desejo de a melhorar. As divergências começam quando ouvimos as diferentes opiniões: as nossas, as dos outros, as menos presentes e as habituais.
 
As principais directrizes do desenvolvimento dos centros urbanos ainda se baseiam no crescimento económico, no mercado imobiliário, nas grandes empresas e indústria em detrimento das pessoas, que surgem muitas vezes como um parâmetro secundário.
 
No entanto, existem regras imprescindíveis para que as cidades proporcionem qualidade de vida aos seus moradores. Os projectos urbanos devem ser locais e adequados à realidade de cada cidade e devem priorizar as pessoas. Para alcançar um consenso, deve contemplar-se a maior diversidade de pessoas possível num espaço público, respeitando devidamente a escala e a diversidade humanas, sem excepções. Isso implica ouvir o maior número de opiniões possível. Só dessa forma é que os moradores sentirão que o espaço urbano pertence a todos.
 
Se nos últimos anos, Évora esvaziou o seu centro histórico deslocando para a periferia actividades económicas e melhores alternativas habitacionais, comércio e cessando quase por completo a actividade cultural urge traçar precisamente o caminho inverso.
 
Existe um plano de reabilitação urbana que será posto em prática e que engloba a requalificação do Teatro Garcia de Resende, do edifício da antiga Rodoviária e do tão discutido Salão Central, bem como o Palácio D. Manuel, que vai acolher um centro interpretativo, o Rossio de S. Brás, a Praça 1.º de Maio, onde vai “nascer” um centro de acolhimento a turistas e o edifício dos Paços do Concelho. Há também na lista de melhorias, a requalificação de um parque de estacionamento. Todos os projectos são pertinentes, numa cidade com mais de dois mil anos de história não será difícil existirem edifícios a concorrer para serem resgatados da degradação ou abandono ou simplesmente para se revitalizarem.
 
Parece-me porém que fica mais uma vez adiada a criação de um diálogo entre a cidade e um capital criativo que a abandonou ou que não a considera por falta de oportunidades que motivassem o desejo de viver ou trabalhar nela. Em defesa da necessidade de atrair mais competências criativas, ou seja, recursos humanos criativos representados por várias gerações, o projecto de reabilitação urbana apresenta a tradicional intervenção em estruturas que se tornarão demasiados estáticas e pouco tolerantes à experimentação e que irão mais uma vez afastar a possibilidade de implementação de novas manifestações ou indústrias criativas. Há um renovado reconhecimento do peso e importância das actividades culturais mas seria igualmente importante uma aposta em novos olhares e novas energias sobre a cidade.
 
A criação de clusters espaciais bem definidos ou a aposta em tornar mais híbridos os espaços já existentes certamente alavancariam novas perspectivas de crescimento criativo. O conceito de Património Cultural abrange muito mais que edifícios, incluindo obras ou manifestações nas quais a comunidade se reconhece. Deve ser preservado e valorizado em todas as suas formas e variações para ser transmitido às gerações futuras.
 
Falo em defesa de uma geração que "emigrou" à procura de oportunidades que valorizassem a sua actividade artística ou que permaneceu, adiando sonhos ou projectos mais criativos para abraçar as oportunidades disponíveis fora das indústrias criativas. Este foi o resultado das frágeis fundações culturais que a cidade criou nos últimos anos. Que Património Cultural encontrará o futuro?
 
Imagem de capa de Ana Franco.