26 Novembro 2017      11:33

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HÁ SEMPRE UM LAMBITA…

O simples ato de pensar que se pode ter e fazer carreira na função pública em Portugal é simplesmente anedótico. A progressão profissional em Portugal na função pública nos últimos anos tem sido feita de determinadas maneiras. Dos vários acessos, o menos trilhado foi o do mérito.  Não por uma questão de não haver pessoas que mereçam subir pelo valor do seu trabalho, mas simplesmente porque este mérito não é reconhecido por quem manda como sendo premissa para um trabalhador progredir. Então como se progride em Portugal, a nível profissional, no seio do Estado e Setor Público? É simples. Usualmente, mas já ficou um pouco fora de moda, seria através da ascensão horizontal, mas é tanta a oferta e forte a competição, que já não é garante de nada e aposta-se antes na sedução tendo por fim um casamento. Assim o esforço é duplamente feliz, pois ascende-se profissionalmente e socialmente. A típica e normal cartada de sucesso garantido é ser militante no partido que está no poder e participar ativamente na vida política, injuriando os adversários e abanando a bandeira até que os braços doam. O compadrio é também muito eficaz, sempre o foi e faz parte da nossa herança cultural desde que Portugal é Portugal. Mas eis que no meio de todas estas táticas surge a figura do temível Lambita! O Lambita é aquele nosso colega que no seu recato tem apenas um fito – “lamber” o chefe desde os dedinhos dos pés até à raiz dos cabelos para progredir. O Lambita consegue destruir equipas, destruir chefes, destruir tudo o que está à sua volta, na ânsia de progredir, de ascender, de ganhar mais uns tostões.

No seio de uma equipa, inicialmente, o Lambita procura ser o melhor amigo de todos, procura de forma encapotada ser o coordenador dessa mole de cérebros e corpos. Nunca partindo um pratinho, nunca reclamando, pouco a pouco começa a emergir, começa a enlear o chefe na sua teia. O Chefe por insegurança, por carência ou por ego deixa-se levar, porque quer ser levado. Dá-lhe jeito ter um chibo ou um subordinado que crê o admirar. Um subordinado que lhe sugere, como quem não quer a coisa, congressos, reuniões, projetos ou ações que permitam ao chefe viajar, passear, estudar, ser admirado.

E deste modo o Chefe deixa-se levar por este subordinado que constantemente o louva, que nunca lhe diz que não, a quem pode mandar fazer qualquer coisa que esta é feita. Com quem pode contar também a nível da sua vida pessoal, para sair para desabafar, pois também nesse lado da vida do Chefe, o Lambita se irá intrometer e nidificar. Conta com a total lealdade deste subordinado para lhe indicar quem da equipa não o estima, não o respeita como chefe, não o teme, quem é o mais fraco, … E deste modo o Lambita mina a equipa. Os colegas apercebem-se e irados manifestam-se. É então que o Lambita assume outra faceta – a de vítima dos colegas perante o Chefe. Como vítima, assume-se perante o chefe como alvo dos colegas por ser tão bom trabalhador que todos o invejam e que só nele o Chefe pode confiar como subordinado e amigo. O Chefe defende-o, assume-o como amigo… e a equipa fragmenta-se e desiste, deixando de fazer sentido o esforço pessoal de cada um pois o mérito não é reconhecido e valorizado por quem por dever o deve fazer.

Como se destrói então um Lambita? Não se destrói. O problema não é o Lambita… O problema é o Chefe do Lambita! Só existem lambitas, quando existem chefes que permitem a existência destes seres. O problema está pois… neste tipo de Chefes.