22 Outubro 2020      09:17

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Fosso pré-histórico no concelho de Beja afetado por trabalhos agrícolas

Um dos maiores recintos de fossos pré-históricos conhecidos no Baixo Alentejo, situado no concelho de Beja, foi afetado por trabalhos agrícolas para instalação de um olival, sem ter havido salvaguarda do património, denunciou o movimento Chão Nosso.

Num comunicado enviado à agência Lusa, o movimento explica que se trata do sítio arqueológico da Salvada 10, que está situado junto à aldeia de Salvada, no concelho de Beja, e “é um dos maiores recintos de fossos pré-históricos conhecidos no Baixo Alentejo”.

O arqueólogo Miguel Serra, que faz parte do movimento, disse à Lusa que o povoado, que está referenciado no Plano Diretor Municipal de Beja como “tendo elevado valor arqueológico”, foi “alvo de ripagens” para instalação de um olival intensivo, e “sem que tenha havido qualquer ação de salvaguarda do património existente”.

Neste local “observam-se as valas abertas no solo e a presença de materiais arqueológicos revolvidos pela maquinaria”, realçou o responsável, referindo que “não é possível aferir o grau de afetação provocado pelos trabalhos agrícolas, sem se proceder a uma avaliação arqueológica”.

O movimento Chão Nosso sublinha que o sítio já tinha sido alvo de afetações em 2017, num caso que “mereceu denúncia na comunicação social e levou à implementação de medidas de avaliação dos danos decretadas pela Direção Regional de Cultura do Alentejo” (DRCA).

De acordo com Miguel Serra, os trabalhos agrícolas que provocaram a nova afetação foram efetuados por uma empresa e numa propriedade e zona do sítio diferentes das de 2017.

O arqueólogo garantiu que a DRCA já tem conhecimento da situação e está a acompanhá-la, acrescentando que desconhece que medidas já foram tomadas e se já foi feita a avaliação do grau de afetação do sítio por aquela entidade.

Recorde-se que o povoado da Salvada 10 foi detetado em 2012, durante a realização de um estudo de impacto ambiental para a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, “levando inclusivamente a alterações de projeto para evitar impactos negativos nos vestígios arqueológicos”, recorda o movimento.

A Lusa refere que contactou a diretora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, que solicitou o envio de questões sobre o assunto por correio eletrónico, aguardando-se resposta.

O Movimento Chão Nosso foi criado “em defesa da cultura, património e biodiversidade do Alentejo”, por um conjunto de residentes na região preocupados com as alterações surgidas nas últimas décadas na paisagem, devido à agricultura intensiva.

É de notar que esta denúncia surge dias depois da recente destruição de uma anta numa herdade perto de Évora, supostamente por causa da plantação de um amendoal intensivo, e que já está a ser investigada pelo Ministério Público depois de a direção regional ter apresentado queixa-crime.