15 Maio 2020      13:28

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Fomos assaltados: como voltar a viver na nossa casa?

Notoriamente o Big Brother voltou-se também para o comum cidadão: é notório como se vê a utilização da tecnologia para monitorizar ao máximo aquilo que se passa no nosso querido país, na nossa casa.

Obras de casa própria que ficaram a meio, pequenos negócios que eram rentáveis o suficiente para quem os abriu, muitos que deixaram o patrão e montaram o seu próprio emprego com base em fortes fluxos de turistas entre outros: Fomos todos assaltados.

Neste momento vamos ter de ter paciência pois começará o tempo do discurso tipo sermão depois de quem fez uma grande asneira. Mas desta vez há que ter muita cautela pois o sermão é sempre focado na prevenção de haver novo assalto e quase nunca com foco na proteção do fundo de maneio de cada família.

A preocupação para evitar que a doença se espalhe é natural e deve ser um dever comum. Já cada família saber gerir o seu pé de meia para momentos de crise é que parece ser um tema muito de última prioridade. Instituições de Crédito (IC), a que vulgarmente se chama Bancos, nada mais são do que negócios que vendem dinheiro.

Ora mas que grande novidade aqui não temos. Pois é mas de facto os bancos estão sempre disponíveis para fazer negócio e todos os clientes são importantes: principalmente os que pagam contas de cartão de crédito às prestações, os que pedem crédito pessoal para comprar telefones ou televisões ou pedem crédito para viajar.

Se por um lado não queremos viver sem os Bancos, por outro lado há que ter a percepção clara que que a poupança e a análise de como saber gastar dinheiro parte de cada um de nós. O velho tema de que quem tem muito rendimento então viverá sempre bem parece-me agora evidente não ser bem assim.

Os Hóteis de luxo, que são uma óptima fonte de rendimento, também foram assaltados: ficaram fechados! Momento de confinamento é também momento de reflexão e análise de como gerir incertezas. Toda a decisão que proteja o bem estar de uma família poder ser fundamental em momentos de assalto.

Centenas e centenas de agregados familiares sentiram a redução do rendimento médio mensal sem terem qualquer voto na matéria. A gestão desta incerteza, vulgarmente designada gestão de risco, raras vezes é explicada como sendo algo que foca essencialmente como devemos gerir aquilo que não sabemos se vai ou não acontecer. Isto também inclui as incertezas positivas: oportunidades. É pois tempo de tirar uma fotografia à nossa casa depois do assalto e tentar concluir sobre aquilo que talvez seja importante mas não essencial. O mesmo é dizer que é tempo de optimizar as nossas vidas no sentido de viver com o essencial para o nosso equilibro e felicidade familiar e sempre considerando que estamos certos que haverá sempre um pé de meia.

Este momento complexo ensinou a todos que aquelas frases feitas tipo “viver com o mínimo para ser feliz ao máximo” ou “é no poupar que está o ganho” ou ainda “nem tudo o que parece é” podem ser ditos populares cheios de fundamento.

Parece-me evidente que a partir de agora jamais iremos comparar preços apenas e só pelo valor numérico mas também iremos começar a analisar o valor agregado de cada decisão.

Parece-me quase certo que todas as famílias se vão tornar-micro empresas no sentido de melhor gerirem cada dia, cada semana e cada mês. E os bancos? Esses vamos continuar a precisar deles mas são as famílias que vão indicar o que pretendem pedir emprestado e não os bancos a vender crédito fácil a ser pago em dezenas e dezenas de mensalidades….

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J. Daniel Braga Alves nasceu no Porto onde se formou em Engenharia Civil. É membro efectivo da Ordem dos Engenheiros e voluntário da delegação portuguesa do Instituto de Gestão de Projetos (pmi.org). Desempenha funções em controlo de progresso de projetos com foco na sua paixão: gestão de incertezas, Gestão de Risco, Indústria da Construção e Extrativa bem como formador em áreas associadas a Gestão de Projetos têm sido as suas áreas de atividade. Entre 2008 e 2017 trabalhou em projetos espalhados por diversos países tendo regressado para ingressar a equipa de um projeto de interesse nacional da indústria extrativa.