7 Janeiro 2018      17:05

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FIGURA DO ANO TRIBUNA ALENTEJO 2017

Entre enfatizar um de tantos que se destacaram pela negativa, optámos por alguém que demonstrou coragem para defender a Paz, o Humano, o Bem.

O Tribuna Alentejo não professa, mas admira. E é por isso que, enquanto diretor, tenho a honra de, em seu nome, eleger a figura do ano 2017: Jorge Bergoglio, o Papa Francisco.

Têm surgido notícias que cerca de um quarto dos bispos do Colégio dos Cardeais considera que o Papa se aproxima da heresia e o jornal britânico “The Guardian” revela mesmo que pode estar em curso uma revolta contra o Papa.

Foi com humildade que Jorge assumiu o papel de Papa Francisco, recusando grande parte dos luxos e mordomias a que as figuras papais nos têm habituado. Humano nas palavras e nos gestos e ações, Papa Francisco demorou pouco, muito pouco, a conquistar se não a admiração, o respeito, de muita gente, mesmo fora do mundo católico.

Tem sido um líder de bom senso, mais que um mero defensor dos interesses corporativos. Consciente de que a sua prática poderia não ser bem-recebida pelos mais conservadores, em 2015 referiu que sentia que o seu papado seria curto.

Tem procurado reformar a Igreja Católica, aproximando-a mais do cidadão do séc. XXI, do Ser Humano moderno e consciente, e isso tem implicado enfrentar dogmas que a Igreja tem conservado ao longo de séculos e que lhe conferiram em tempos o poder quase absoluto.

O Papa Francisco é, curiosamente, mais odiado por alguns católicos que pelos ateus ou crentes de outras religiões, o que diz muito sobre o homem, mas também sobre a própria casa que gere.

Disse que os ateus que seguem própria consciência seriam bem vindos no céu, referiu não ser ninguém para julgar a homossexualidade, defende o batismo de filhos de casais divorciados, tem deitado por Terra mitos e histórias que terão feito sentido há 500 anos atrás, mas que atualmente são despropositadas, tem realizado uma defesa do papel da mulher e da mãe na sociedade, tem provocado o diálogo inter-religioso e aproximação entre religiões defendendo os inúmeros pontos comuns, recebeu refugiadas muçulmanas e lavou-lhe os pés, criticou os “centros comerciais” religiosos e o ganho económico através da Fé, e pôs-mesmo em causa o ato da “confissão” que não deverá ser uma “camara de tortura”, entre muitas outras coisas que elevam o Ser humano racional, que não põem em causa a Fé, mas que estarão em contra da ideia de poder e controlo que os católicos mais conservadores pretendem manter. Tudo isto em simultâneo com escândalos internos de homossexualidade, pedofilia e corrupção no Banco do Vaticano que têm rebentado e sido tornados públicos.

Tanto progressismo nas ideias e palavras de Francisco até fazem quase esquecer que é o primeiro Papa jesuíta da História, mas nem isso lhe serve para que as correntes mais fanáticas não lhe chamem mesmo de “herege” ou “anti-papa”.

São mais de mil milhões os seguidores da Igreja Católica e esta não pode esquecer que muitos destes seguidores são divorciados ou pais solteiros ou homossexuais. A Igreja Católica, ou qualquer outra religião, não pode subverter o mais genuínos princípios humanos: o fazer o Bem, o bom senso e o amor entre o Homem.

Se aquilo que a Igreja tem para oferecer em pleno séc. XXI não se coadunar com o bom senso, a lógica e a ciência, esta colapsará por ela própria; Francisco percebeu-o e tem realizado a aproximação, mexido com o “status” e estes têm atirado a tudo o que o argentino tem dito e feito. Algumas atitudes conservadoras fazem lembrar que as missas eram proferidas em Latim durante séculos de maneira a provocar o controlo da fé e da Palavra, uma vez que que o público que assistia às missas não dominava minimamente a língua, logo, o objetivo não seria a transmissão da Palavra, mas a detenção da mesma. O mesmo parece verificar-se agora por parte daqueles que criticam Francisco e que parecem esquecer que o Segundo Concílio, no tempo do Papa João XXIII, defendeu a democracia e os direitos humanos universais.

Quando alguém que enfatiza o Humano e tenta utilizar a sua posição para que todos compreendam que o mundo é uno, que as religiões se tocam e só fazem sentido em comunhão com o Homem - e tudo o que este é ao nível da Razão, da Lógica e da Ciência - e é acusado de herege faz parecer que alguém anda com a Bíblia debaixo do braço aos anos, mas que ainda não a soube ler com os próprios olhos.

Galileu foi condenado à morte pela Inquisição – fará amanhã 376 anos - por defender que a Terra girava em torno do Sol, um facto que já quase ninguém dúvida, quase, pois muitos parecem acreditar que em é torno do Vaticano que ela realmente gira.

 

Imagem de exame.abril.com.br