16 Dezembro 2019      13:13

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Ferro Rodrigues e a “vergonha” (alheia)

Assistimos no debate parlamentar da última quinta feira a mais um infeliz momento da fraca figura política que é o Presidente da Assembleia República em funções. Eduardo Ferro Rodrigues adverte o deputado do Chega para o uso excessivo da palavra “vergonha” nas suas intervenções, e para, como tal, isso pode ser um insulto para o parlamento.

Em primeiro lugar há que clarificar que cada deputado é livre de dizer aquilo que entender desde que respeite a ética parlamentar, que normalmente é quebrada via linguagem imprópria ou ofensa pessoal, tópicos onde não se enquadra a situação em questão.

De seguida, o deputado do Chega, face ao sucedido, volta a pedir a palavra para motivos de defesa da honra. Palavra concedida pelo Presidente da AR em tom brejeiro e arrogante. O deputado prontamente se defende, invocando o princípio da liberdade de expressão, até ser interrompido por Ferro Rodrigues, que atira uma expressão que, face ao sucedido, não fazia o mínimo sentido: “A sua liberdade de expressão acaba onde começa a liberdade de expressão dos outros”.

A única resposta a uma tirada destas só pode ser “Não, não acaba!”. A liberdade de expressão, quanto muito, termina na ofensa, que foi tudo aquilo que não existiu. Aquilo que existiu foi um ressentimento por parte de Ferro Rodrigues a um argumento com o qual este não concordava, e que, do alto dos seus poderes parlamentares, tentou repreender e sair por cima.

O que Ferro Rodrigues conseguiu com este episódio (de vergonha alheia)  foi oferecer gratuitamente um balão de oxigénio ao Chega, porque é disto que partidos boçais como o Chega se alimentam. E claro que foi logo marcada uma conferência de imprensa para que o Chega pudesse ir choramingar em frente às câmaras e dar o espetáculo deprimente do costume. Que os enche de audiência. Que os enche destaque. Que os enche de partilhas on-line. Que os enche de aceitação, e consequentemente, de votos!

O que aconteceu na passada quinta feira foi tão somente uma demonstração pública de inaptidão política por parte da segunda maior figura do Estado, que numa tentativa de parecer bem e de “bater nos maus”, deu um tiro no pé. E agora vamos ter que lidar com o Chega a lamuriar-se durante semanas, e a trazer o tema à tona durante meses quando se sentirem apertados no que ao debate parlamentar diz respeito. O cartaz em frente ao parlamento é prova disso mesmo e da capitalização política que vai começar a ser feita em torno da situação.

Aparentemente ninguém aprendeu nada sobre estes movimentos com o surgimento de Trump, Salvini, Le Pen, etc. E de como estes conseguem virar estas situações contra os atacantes, está mais que provado que este não é o caminho para se lhes fazer oposição, mas ainda assim há quem insista em bater com a cabeça na parede!

Basta debater de igual para igual com estes movimentos, sem troça, sem censuras, sem ataques pessoais, que rapidamente se percebe que o discurso destes é apenas um conjunto de banalidades e generalidades cuja “cassete” é sempre a mesma, e que não passa daquilo, puro barulho. Nada de palpável, nada de concreto. E que, quando se veem obrigados a sair desse registo, se auto ridicularizam sem que do outro lado tenha que existir muito esforço.

Quem não percebe isto não pode estar na política dos dias de hoje. Quem quer fazer política hoje não pode “tremer das pernas”. Políticos que tremem das pernas são, especialmente hoje, um perigoso ponto fraco da democracia, e ainda mais, se forem o Presidente da Assembleia da República.