Fruto da repetição de erros históricos, vivemos tempos de extremismos onde o fanatismo exacerbado se tornou normal e é transversal quer na estrutura social, quer nos mais variados quadrantes – do desporto à política, passando pela comunicação social.
As desigualdades extremaram-se também: 1% da população mundial detém a riqueza e o poder político concentra-se cada vez mais nas mãos de uma pequena elite empresarial e financeira.
Como dizia Sá Carneiro, “Sempre que há concentração de poderes abre-se a porta ao autoritarismo, precursor da ditadura, aniquiladora das liberdades.” e, aos pouco, o extremismo e o radicalismo têm roubado o espaço da liberdade e da democracia e basta ligar qualquer rede social e ver partilhas sobre política para se notar logo um sem fim de críticas desmesuradas e inapropriadas que em nada contribuem para a evolução e progressismo; normalmente misturam-se alhos com bugalhos, atacam-se as pessoas e esquecem-se as ideias.
Quer de um lado, quer do outro – poderes e oposições – a mostra de intolerância tem sido tal que em nada contribui para elevação do debate político e para a sua valorização pública. E se a maior parte dos extremistas, os ultra, são, normalmente, pessoas pouco escolarizadas, este fenómeno está também a sofrer alterações, sendo usual que pessoas com um nível de cultura e educação mais elevado se deixem enredar também nesta main-stream radical.
Aparece alguém com um pouco mais de lábia, capacidade de persuasão e um discurso populista e logo se prontifica um rebanho acéfalo para lhe servir de exército. São depois estes que perseguem tudo e todos os que contrariam a sua opinião através da ofensa e da tentativa de criação de medo.
O respeito tornou-se relativo e o aceitar a opinião do próximo com tolerância é coisa de otário. Levantam-se muros e nascem preconceitos; regredimos.
Queremos opinar e opinamos; aliás mais que nunca – fruto da proliferação quase fúngica de redes sociais e meios de divulgação – mas com uma ressalva: não queremos que os outros opinem! Se não pensam como nós, é para esmagar. Enfatizam-se as diferenças e esquecem-se as semelhanças.
Dizia o já saudoso Umberto Eco que o “excesso de informação provoca amnésia”. Eu não diria tanto, mas é cada vez mais necessário saber ler o que se lê, saber ver além do óbvio e confirmar a fidedignidade das fontes.
Com a massificação opinativa das redes sociais, basta o boato para se levantar uma onda de fanáticos esfaimados que não aceitam as opiniões contrárias, aí sim concordo com Eco a cem por cento: “As redes sociais deram voz aos imbecis”, às bombas-relógios que buscam no atentado à Liberdade do próximo a sua salvação ou felicidade ou tão somente um esquecer de algumas frustrações.
Até no desporto, se tem assistido a dirigentes a incentivar a violência e a criar climas que facilmente resultam em guerras e lutas que ultrapassam qualquer lógica desportiva e clubística. Qualquer um diz o que quer, sem sentir a pressão social que fazia adequar os discursos e as circunstâncias de acordo com o lugar e papel social que se ocupa.
Numa sociedade com os nervos à flor da pele parece existir um desejo e uma ansiedade inconsciente que alguém atire a primeira pedra para que se possa responder e atirar com toda a artilharia ao dispor.
Num mundo cada vez mais diferente e marcado pela heterogeneidade, são cada vez mais os que não aceitam a diferença.
Desde o início nos propusemos que o Tribuna Alentejo fosse um lugar de liberdade, de debate, de pluralismo e opinião. Isto faz com que muitas vezes publiquemos textos ou artigos de opinião que são até divergentes com as nossas opiniões pessoais.
A opinião dos nossos colaboradores, por exemplo, não nos veicula – aliás, são muitas vezes contraditórias entre elas – mas não permitiremos nunca que não sejam expressas neste espaço porque não agradam a y ou a x ou porque vai contra uma nova corrente de opinião ou uma corrente maioritária.
E é nesta base que – e mesmo sendo esta uma casa inquestionavelmente alentejana – se publicaria um qualquer texto do Sr. Raposo sem hesitar, fosse ele nosso colaborador.
É desta diversidade de opinião que nasce a evolução da sociedade.
É por meio do choque de ideias que se progride.
A liberdade de expressão não é, nem será, questionável para nós.
Aqui, no Tribuna Alentejo, o respeito pela diferença e pela liberdade de opinião serão sempre um lugar comum.
Luís Carapinha - Diretor do Tribuna Alentejo
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