28 Julho 2018      10:30

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Exame

A palavra em si assusta. Exame. Vem do latim examen, de onde vem a palavra enxame também. Dessa não falaremos hoje, se bem que um enxame de abelhas também me assusta, prefiro ficar pelo exame e pelos vários tipos de exames que existem, todos eles com algum grau de pânico, ansiedade e temor.

Comecemos pelos exames médicos. Bastante úteis para nos entendermos e nos protegermos de eventuais doenças, os exames médicos sempre nos ajudaram a melhorar a nossa saúde. Desses, tenho receio daquilo que posso encontrar, daquilo que determinam. Por isso, destes também não me apetece falar hoje.

Prefiro falar daqueles que conheço melhor. Os exames de escola e de Universidade. Já fiz muitos e administrei outros tantos. Em todos eles há uma dose razoável de temor e medo, de receio e de nervosismo. Enquanto estudante, começavam a suar-me as mãos e transpirava quando olhava para aquelas folhas que me apareciam à frente, a preto e branco, com perguntas meio estranhas e mais estranhas ainda se não tivesse estudado o suficiente. Quando há coisas que não se sabem e que nos são perguntadas, o melhor é mesmo responder com aquilo que se sabe, sem grandes invenções. Porém, dos meus tempos de estudante e exames já lá vão uns anos.

Agora, sento-me do outro lado e vejo as caras de quem tem de escrever as folhas em branco. As caras que me fazem perceber o que sentia quando me sentava naqueles bancos e sabia que em duas horas teria de pôr no papel, de forma habilidosa, uma quantidade de informação que fizesse algum sentido, pelo menos que o fizesse ao examinador. Agora, vejo as mãos que transpiram na tentativa de agarrar a caneta e o lápis e a tentativa de responder a tudo o que lhes é perguntado em espaço e tempo recorde. Há perguntas danadas nestes exames. Há perguntas que fazem pensar e outras em que nenhuma resposta será a cabal.

Hoje veo do outro lado as tentativas falhadas de tentar ir buscar informação a auxiliares de memória. As tentativas mais rebuscadas de copiar a informação que não se percebeu. Aquilo que também não se percebe é que não entendendo essa informação, o acto de passar torna-se um proforma e em nada mudará o rumo da informação em falta. Copiar é fingir que o conhecimento dos outros é a nossa capa de super-heróis. Ao renovar as coisas que se sabe e passá-las aos outros, tornamo-nos mais conhecedores, até de nós próprios.

Na sala, quase vazia, e época especial de 2ª fase, poucas almas sentam-se, afastados e cada um deles tem, além da identificação, uma caneta, um lápis e uma folha em branco. Rascunho. As outras chegarão depois, quando o inquisidor mor, ou o seu ajudante as trouxerem. Acredito que é assim que os alunos os veem, e a mim também, já agora, indo por essa via. A via é longa e morosa. Tem avisos, meia hora e quinze minutos antes. A via termina com um som estridente que assinala o fim, que pactua com o inquisidor, o qual dirá, entreguem as provas. Parece quase como que o acordar de um pesadelo. Espera-se, no entanto, que as folhas de resposta estejam preenchidas com algo substancial. Que o discurso que para lá foi trasladado da mente, avalie a mente em si e a sua capacidade de raciocinar. Mais do que transcrever a informação toda que se possa ter decorado ou adquirido por inerência, o importante é que no processo dessa transferência, haja uma dose grande crítica e de não se limitar a pôr no papel o que se ouviu.

Os exames foram inventados por alguém e essa pessoa não teve de fazer nenhum. Ao longo dos tempos foram evoluindo até aquilo que são hoje. Seja em que ramo for, o importante é que a folha não esteja vazia e, mais do que isso, que aquilo que lá está escrito tenha sempre uma avaliação favorável. Quando não acontece, há sempre a possibilidade de repetir e, não correndo bem, uma colher de mel ajudará certamente a adoçar o receio da próxima época.