15 Novembro 2018      13:06

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Évora merece um pólo residencial universitário

Investir tudo nos filhos. Este é o sonho da generalidade dos pais, ou seja, proporcionar as condições necessárias para dar um curso superior aos seus pares. Contudo, olhando para os desafios de contexto atuais, suportar os gastos com a educação é um pesadelo, desde o berçário à universidade, o caminho é conturbado e espinhoso.

Porque muitas vezes a agenda político-social é dominada por tendências, debates e discussões momentâneas sem qualquer tipo de consequência ou repercussão e, maioritariamente, desprovidas de sentimento ou emoção, salvaguardo a minha consciência moral, referindo que já em 2015, neste mesmo periódico, defendia que a formação de cada indivíduo é um direito que deve ser garantido a todos sem exceção.

Sem uma educação de qualidade, designadamente a nível do ensino superior, muito dificilmente teremos uma geração vindoura mais qualificada e um país mais desenvolvido, e querer vender a ideia de que tudo vai bem e sobre rodas é, sem margem para dúvidas, silenciar e manietar aqueles agregados familiares que se debatem diariamente com condicionalismos de ordem económica para atingir e proporcionar um sonho: ver os filhos com um canudo na mão.

Em 2016, também nesta minha rúbrica, defendi a importância de pensar na Universidade de Évora como um vetor para a mobilidade social, tanto a nível interno como a nível internacional, sendo impreterível a construção de ferramentas e instrumentos de apoio transversais que garantissem a possibilidade de qualquer jovem que desejasse prosseguir os seus estudos nesta instituição do interior do país, o pudesse fazer vindo de qualquer ponto do globo.

Uma coisa parece certa, a Universidade de Évora tem vindo nos últimos anos a mostrar robustez, capacidade de atração e dinamismo, tendo ficado colocados no presente ano, mais de mil novos estudantes nos vários ciclos de estudo, tratando-se de um aumento de quase 2,5% face ao ano de 2017 no que respeita à 1.ª  fase do concurso nacional de acesso, contrariando, dessa forma, o cenário verificado a nível nacional de diminuição de alunos colocados.

Porém, o ingresso é apenas um dos elementos da equação, pois a necessidade de criar as condições para o início de uma nova fase na vida dos jovens estudantes depende, entre outros fatores, daquele que eu considero o mais importante: o acesso à habitação.

Tal como noutros pontos do país, a procura de alojamento por parte dos estudantes em Évora está, também ela, irremediavelmente prejudicada pela pressão turística de um destino que tem crescido a dois dígitos e que supera, em média, o crescimento turístico das outras regiões do país. Apesar desta evolução positiva trazer um conjunto de externalidades positivas a nível da estrutura e desenvolvimento económico do Distrito, fomentou a redução da oferta, bem como a escalada dos preços praticados no mercado de arrendamento.

Desse modo, considerando uma instituição com cerca de oito mil estudantes e com capacidade, em termos de ação social escolar, para cerca de 500 camas, isto é, menos de 10% do total de alunos, podemos perceber que a resposta por parte dos serviços de ação social fica comprometida para acolher os alunos deslocados da zona habitual de residência, sujeitando-se os mesmos a habitações com parcas condições e a elevados preços.

Assim, se por um lado queremos e desejamos promover o sucesso académico numa estratégia de desenvolvimento nacional, não podemos aceitar que o fenómeno do abandono escolar seja recorrente com alegadas associações às dificuldades económicas dos estudantes e/ou agregados familiares, designadamente, pela via dos custos associados ao alojamento.

Em acréscimo ao que referi no parágrafo anterior e, de acordo com um estudo recente elaborado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, sabe-se que o valor médio relativo aos custos de frequência anuais de um estudante no Ensino Superior situam-se na ordem dos 6.500€, dos quais, cerca de 30% representam despesas relacionadas com o alojamento. No caso de Évora, e atendendo à recente dinâmica de escalada de preços e da reconversão de inúmeras habitações para o setor do alojamento local, esta percentagem pode aumentar ainda mais.

Por outro lado, segundo uma investigação desenvolvida pela Universidade de Évora sobre o abandono escolar na mesma instituição, apresentada publicamente em Fevereiro de 2016, concluísse que o número de estudantes com bolsas de ação social que desistem do ensino superior é três vezes menor do que entre os estudantes que não tiveram qualquer apoio para estudar. Ou seja, alunos com apoios sociais desistem menos do ensino superior.

Por isso, confesso que fiquei consternado mas, acima de tudo, renitente, quando este ano se celebrou a vitória da redução do teto da propina no ensino superior em 212 euros. É verdade, não sejamos profetas da desgraça, que para as famílias é sempre uma boa notícia saber que vão pagar menos, no entanto, há uma certa perversão nesta medida porque, afinal de contas, os estudantes com dificuldades poderão sair ainda mais prejudicados.

Como? Com a descida do valor máximo da propina, tendo em conta a atual fórmula de atribuição das bolsas de estudo, o rendimento anual per capita passará a não poder ultrapassar os 7718,40€. Isto é, estudantes que até agora usufruíam de bolsa poderão deixar de ter esse apoio por meros 30 euros caso a fórmula de atribuição se mantenha em casos limiares. Demagogia, portanto...

Se por um lado querem que o resto do país pague a redução dos passes sociais, em Lisboa e Porto, numa medida de extrema injustiça para todos os contribuintes que não são das referidas áreas metropolitanas, também queremos que compensem a redução das propinas com o aumento da capacidade de alojamento para estudantes e reforço da ação social no interior e cumpram o apregoar do desígnio da coesão territorial.

Évora merece um pólo residencial universitário. Évora é uma das capitais nacionais que acolhe como destino do conhecimento, da capacidade critica e da irreverência um conjunto de jovens que promovem e desenvolvem esta região e a própria cidade.

Estão de parabéns os pais que tantos sacrifícios fazem para verem os filhos singrar. Estão de parabéns os filhos que reconhecem esse esforço. Mas, cabe ao Estado sobre esta premissa, comprometido que está com os grandes objetivos de qualificação humana desta geração, iniciar a construção de um pólo residencial universitário com rendas controladas porque não somos apenas uma bonita paisagem provinciana para passar férias – Somos Évora!

 

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