11 Janeiro 2022      09:34

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Évora: documentário aborda bairro da Malagueira de Álvaro Siza Vieira

O Bairro da Malagueira, em Évora, projetado pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira e premiado internacionalmente, é o tema de um documentário realizado por Luís Godinho, que se estreia hoje, terça-feira, nesta cidade alentejana.

A estreia do documentário, intitulado “Malagueira”, está agendada para as 18:00, no Auditório Soror Mariana, no centro histórico de Évora, e marca o início das comemorações dos 45 anos deste projeto.

A obra, assim como uma página de Internet dedicada ao bairro (www.malagueira.pt), resultam de uma iniciativa conjunta da ALD Produções e da Associação Setespinhas, cofinanciada pelo Ministério da Cultura, através do programa Garantir Cultura, e apoiada pela Câmara de Évora e pela Associação de Moradores Malagueira Viva e Vivida.

Em comunicado citado pela agência Lusa, o realizador do documentário sublinha que este bairro foi “um projeto único”, talvez “o mais icónico de Siza Vieira”, no qual “a componente arquitetónica surge enquadrada por pressupostos ideológicos”.

“O desenho das casas e dos espaços comuns, isto é, a conceção do próprio bairro, envolveu a participação dos futuros moradores, chamados a opinar sobre questões como a dimensão das janelas ou a altura dos muros”, continuou o também jornalista Luís Godinho.

Este foi “um projeto participado, onde rapidamente se passou da discussão sobre a tipologia das casas para o conceito de cidade”.

Segundo o realizador, “foi também um projeto inclusivo, na medida em que Álvaro Siza Vieira conseguiu evitar a criação de ‘guetos’ numa área com 1 200 habitações, integrando a iniciativa privada com a construção social e cooperativa”.

O documentário de Luís Godinho tem como protagonistas os arquitetos Álvaro Siza Vieira e Nuno Ribeiro Lopes, o ex-presidente da Câmara de Évora Abílio Dias Fernandes e dezenas de moradores do Bairro da Malagueira (1977-1997).

“Mais do que a história do bairro, procurei refletir sobre as suas vivências atuais, indo ao encontro de quem o habita e reunindo um conjunto de depoimentos de moradores, alguns recém-chegados, outros que se intitulam de ‘pioneiros’, por terem sido os primeiros a instalar-se”, acrescentou o realizador.

Siza Vieira deslocou-se a Évora, pela primeira vez, a 18 de março de 1977, para conhecer o local onde o projeto seria implementado.

As obras prolongaram-se por duas décadas, embora o bairro continue inacabado, uma vez que “alguns dos equipamentos coletivos, como a semicúpula, que deveria marcar a centralidade deste território, não chegaram a ser construídos”, afirmou Luís Godinho.

O arquiteto Nuno Ribeiro Lopes, que, à época, colaborava com Siza Vieira e foi quem, no terreno, acompanhou o desenvolvimento do projeto, lembrou que, naquela altura, “a Câmara de Évora tomou a liderança urbanística a nível nacional com várias ações”.

“Uma delas foi a Malagueira. Outra foi a elaboração de um primeiro Plano Diretor Municipal, que era uma coisa que legalmente não existia. Aliás, foi feito e só seis anos depois é que entrou em vigor, quando a lei surgiu”, disse.

Estas linhas de ação, juntamente com “o combate aos loteamentos clandestinos e a classificação do centro histórico como Património Mundial” pela UNESCO, “modificaram completamente a face de Évora”, frisou Nuno Ribeiro Lopes.

“Onde é que a Malagueira entrava neste processo? Por um lado, pela valorização do centro histórico. Por outro, como alternativa aos loteamentos clandestinos. Era um loteamento planeado e a visão que o Siza tinha era prolongar a qualidade do centro histórico”, acrescentou.

 

Fotografia de mag.sapo.pt