Évora, designada Capital Europeia da Cultura para 2027, enfrenta um desafio significativo a menos de dois anos do evento: os dois principais equipamentos previstos no plano da candidatura — o Centro Cultural de Utilizações Múltiplas e o Centro Nacional de Dança Contemporânea — ainda não têm projetos definidos nem financiamento assegurado. A situação, revelada em reportagem recente do jornal Público deste sábado, 8 de março de 2025, levanta preocupações sobre a capacidade de a cidade cumprir os compromissos assumidos no Bidbook, o documento estruturante da sua candidatura.
O Centro Cultural de Utilizações Múltiplas, planeado para ser construído a norte do centro histórico de Évora, foi concebido como um espaço polivalente com capacidade para acolher até três mil pessoas em conferências e eventos culturais. Já o Centro Nacional de Dança Contemporânea, com um orçamento estimado de três milhões de euros, pretende ser um marco para a dança em Portugal. Ambos os projetos foram destacados como pilares fundamentais para as atividades de Évora 2027, mas, até ao momento, permanecem na fase conceptual, sem avanços concretos.
O Ministério da Coesão Territorial, em resposta às questões levantadas, reconheceu que estas infraestruturas não estão incluídas na reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que se foca na reabilitação de edifícios existentes. A justificação apresentada é a "falta de maturidade" dos projetos, o que os exclui, por agora, de fontes de financiamento imediato. Apesar disso, o Governo mantém o compromisso de encontrar soluções, mas não especificou prazos ou alternativas de funding.
Carlos Pinto de Sá, presidente da Câmara Municipal de Évora, já tinha alertado para a necessidade urgente de garantir os recursos financeiros. Num protocolo assinado em 2023 com o Estado português, foi formalizado um investimento de 34 milhões de euros, dos quais 15 milhões provêm do Ministério da Cultura, 15 milhões do Ministério da Coesão Territorial e 4 milhões do Ministério da Economia e do Mar. A autarquia comprometeu-se a contribuir com mais de 10,5 milhões de euros, elevando o montante total a cerca de 44,5 milhões. Contudo, este valor parece insuficiente para cobrir as grandes infraestruturas previstas, e os 15 milhões de euros adicionais esperados de fundos europeus ainda não têm origem identificada.
A Associação Évora_27, entidade gestora do projeto, assegura que o título de Capital Europeia da Cultura não está em risco, mesmo que os equipamentos não sejam concluídos a tempo. António Costa da Silva, diretor financeiro da associação, sublinhou que o foco é cumprir o programa cultural delineado, adaptando-se aos recursos disponíveis. "Estamos a trabalhar para captar financiamento, mas a concretização de alguns projetos, como o Pavilhão Multiusos, é da responsabilidade do município", afirmou.