3 Novembro 2020      10:05

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Estudo da Universidade de Évora defende que futebol não é de "alto risco" à Covid 19

A análise sugere que o futebol não é uma modalidade de alto risco de exposição respiratória para a transmissão da COVID-19, corroborando a classificação avançada pela Direção-Geral da Saúde na Orientação 036/2020 de 25 de agosto como modalidade de “médio risco”. Esta é umas das principais conclusões de um estudo publicado na revista Sensors que contou com a participação de Bruno Gonçalves e Hugo Folgado, investigadores da Universidade de Évora (UÉ).

Os Professores do Departamento de Desporto e Saúde da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora, Bruno Gonçalves e Hugo Folgado, ambos investigadores do Comprehensive Health Research Centre (CHRC), colaboraram neste estudo com vista a monitorização das dinâmicas de um jogo futebol para análise de risco de exposição respiratória para a transmissão da COVID-19, envolvendo também investigadores da Universidade do Porto, Universidade da Beira Interior e Universidade Nova de Lisboa. 

Neste estudo, que procurou analisar a aplicabilidade da utilização dos dados de tracking recolhidos durante os jogos de futebol na avaliação do contacto interpessoal entre indivíduos, foram calculadas duas medidas de exposição respiratória. Foram ainda analisados os posicionamentos e movimentações dos jogadores e árbitros durante um jogo de futebol que terminou empatado a três golos, através de um sistema de rastreamento com câmaras super-HD e tecnologia de processamento de imagem patenteada (utilizada em campeonatos como a Premier League, Bundesliga, La Liga, Eredivisie, Liga dos Campeões e jogos internacionais da UEFA e da FIFA).

A primeira medida de exposição respiratória, calculada para cada indivíduo, foi baseada no tempo passado a uma distância inferior a 2 metros em relação aos outros indivíduos. Já a segunda medida, foi calculada, adicionando à primeira medida, o tempo de exposição à “nuvem” de gotículas respiratórias formada pelo movimento dos outros indivíduos.

Os resultados do estudo apontam que esta metodologia de análise poderá ser utilizada para avaliar a exposição respiratória decorrente do contacto interpessoal e consequente estratificação do risco da prática e competição de diferentes modalidades desportivas ou atividades físicas, contribuindo para o planeamento de diferentes atividades no contexto da pandemia de COVID-19.

Bruno Gonçalves, refere que “foi uma colaboração que juntou profissionais das ciências do desporto e da saúde pública, duas áreas de conhecimento com o mesmo fim” e cujos resultados “demonstram que o futebol não parece ser uma atividade de alto risco para a transmissão do SARS-CoV-2”.

O método utilizado é de aplicação simples para todos os clubes que tenham esta tecnologia de rastreamento ao serviço dos praticantes, quer em processo de treino, quer em processo de jogo, "portanto, sugere que ter um posicionamento instantâneo de todos os intervenientes durante a prática poderá ajudar a tomar decisões com base em informação mais assertiva” acrescenta Bruno Gonçalves avançando que “estas tecnologias que até agora eram utilizadas para monitorizar cargas podem agora ser mais direcionados para esta área de intervenção, que é a quantificação do contacto interpessoal”.

Os resultados do estudo apontam ainda “que esta metodologia pode ser utilizada daqui para a frente não só em competição, mas também nas sessões de treino, na eventualidade da necessidade de rastrear os contactos de um caso suspeito ou positivo de COVID-19" acrescenta o professor da UÉ.

Adalberto Campos Fernandes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa referiu, em declarações à FPF, que “trata-se de uma abordagem inovadora e consistente que contribui para o aprofundamento do conhecimento na relação entre prática desportiva de grupo e o risco associado em contexto epidemiológico adverso", por sua vez Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, considera que o estudo "fornece informação relevante para compreender o risco de transmissão na perspetiva das situações de contacto; pode ser visto como um contributo para decidir sobre as chamadas medidas não farmacológicas de prevenção da infeção. Naturalmente, contribui também para uma melhor "gestão" do receio com que as atividades de contacto social poderão ser encaradas. A prática desportiva é aconselhável, mesmo em grupo".

O estudo encontra-se disponível aqui