9 Junho 2020      12:22

Está aqui

Estados Desunidos da América

Por Guilherme Catarino

Fomos confrontados na última semana, com infindos vídeos a propósito da morte polémica de um cidadão afroamericano, no estado de Minneapolis. Já algemado após, alegadamente, tentar burlar um vendedor de uma loja de conveniência, e sem apresentar qualquer sinal visível de resistência perante os cerca de sete polícias que o vigiavam e seguravam, George Floyd é violentamente impedido de respirar, durante cerca de 8 minutos por um dos polícias, enquanto roga pela vida.

O caso está a correr o mundo, essencialmente pela questão centenária do racismo que, apesar de usualmente escondido das câmaras e das redes sociais, subsiste desde o colonialismo nos EUA e, infelizmente, continua a marcar a sociedade no século XXI. Assistimos em razão disso, a inúmeras manifestações nos quatro cantos do mundo: umas de cariz mais pacífico e outras que de pacifismo terão pouco.

Todos crescemos (outros até os vivenciaram) a ouvir os valores marcantes que norteiam os EUA, desde a independência brava conquistada aos ingleses, o fim da escravidão imposto pela Terceira Emenda, ou a marcha revolucionária triunfante onde 300 mil pessoas, pacificamente lideradas por um pastor afroamericano de seu nome Martin Luther King, caminhavam pelas ruas de Washington DC pelos seus direitos civis, em busca de um “sonho”. Sonho este conquistado, porém, deturpado com o assassinato do seu principal obreiro que, em pouco tempo, voltou a colocar o país a ferro e fogo.

Numa altura tão delicada a nível mundial, custa a crer a falta de comunicação do Governo norte-americano com os seus cidadãos, tanto na natural busca de união interestadual ou de um bem-estar social, imprescindível num momento emergente como o atual. Os milhares de indivíduos desempregados, as revoltas ativistas que custarão às cidades prejuízos económicos tamanhos, ou os conflitos morais aparentemente já intrínsecos às relações morador-polícia, representam “apenas” alguns dos efeitos iniciais desta bomba-relógio que vai pautando o caminho do país livre.

Qual será a estratégia de Donald Trump? Perante todo este aparato revolucionário que envolve os Estados Unidos, a posição do atual presidente norte-americano começa, por muitos, a ser assemelhada à de Richard Nixon, que apesar de tudo, potenciou uma das alturas menos díspares no país, ao abrigo da conhecida “Law and Order” republicana.

Conquanto, as peças do tabuleiro de Trump não são as mesmas. Haverá razões até para acreditarmos que tal política não trará benefícios ao povo norte-americano. Em primeiro lugar, pela imagem controversa que Donald Trump traz ao mundo, antes até da sua intitulação presidencial, - num espetro totalmente oposto ao de Nixon, mais herói que vilão apesar de tudo  - com as constantes afirmações polémicas, afrontas aos meios de comunicação social ou ameaças de guerra, que poucas garantias de confiança oferecem aos residentes.. 

Ademais, todas as manifestações populares que marcam os 4 anos de mandato de Donald Trump, expõem a nu a incapacidade desta unicidade de sistema político, em responder às necessidades atuais dos seus, e cujas deficiências suplicam a cada dia por um sistema  novo e atualizado.

Os tempos mudaram, e a política republicana que Richard Nixon adotou durante o Estado Social solucionou imbróglios que, apesar de identificativos com os atuais, preveriam na sociedade norte-americana do século XXI, uma adequação natural da parte de Donald Trump aos seus moldes. Esperemos para ver...

Imagem de capa de AFP

---------------------

Guilherme Catarino, nascido em Lisboa em 2000, estudou no Colégio de São Tomás e encontra-se no 2o ano da licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa