11 Abril 2022      10:02

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Estação Biológica de Mértola avança em investimento de 7 milhões

Nuno Ferrand, diretor do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO)

A Câmara Municipal de Mértola lançou um concurso público para reconverter os antigos celeiros da EPAC numa estação biológica internacional dedicada a o combate às alterações climáticas e à desertificação, num investimento de sete milhões de euros.

A informação é adiantada pelo jornal Expresso, que refere ainda que um segundo concurso terá lugar na próxima semana e diz respeito à componente museológica da estação.

O projeto é liderado pela autarquia e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, tendo sido inicialmente apresentado em fevereiro de 2020.

Contudo, a iniciativa acabou por ser adiada devido à pandemia e só agora reuniu as condições para arrancar. Ainda sem os antigos celeiros da EPAC reconvertidos, a atividade relacionada com a Estação Biológica de Mértola já começou, com a chegada à vila alentejana de um grupo de 40 alunos e quatro professores da Universidade de Montpellier, um dos parceiros do projeto, para um campo de trabalho de três semanas do mestrado em Ecologia desta universidade francesa, em que o território de Mértola será o seu objeto de estudo.

Em declarações ao Expresso, Nuno Ferrand, diretor do CIBIO, explica que a Estação Biológica de Mértola é um projeto interdisciplinar pioneiro a nível mundial “porque integra investigação, residências para cientistas, um Museu da Biodiversidade que junta arte, ciência e a memória histórica dos cereais, e ainda transferência de conhecimento para a economia local e soluções para os problemas das alterações climáticas e do interior”.

Segundo o responsável, o museu terá um modelo semelhante ao Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, também dirigido pelo próprio, onde se cruzam ciência, instalações artísticas e a memória do edifício – a antiga Casa Andresen, onde viveu Sophia de Mello Breyner.

Neste sentido, a futura estação biológica irá reunir cientistas de todo o mundo das mais diversas áreas, estudantes de doutoramento, artistas, empresários, agricultores e visitantes.

Nuno Ferrand realça ainda que “o objetivo da Estação Biológica de Mértola é albergar formação avançada, nomeadamente doutoramentos”, e nesse sentido vão ser lançadas duas cátedras convidadas naquela vila, apoiadas por um programa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que envolvem um investimento global de 320 mil euros.

A primeira, ligada à biodiversidade, será financiada pela EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (75%) e pela FCT (25%). A segunda, relacionada com a biologia das espécies cinegéticas, terá o apoio de empresas agrícolas da região e do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (75%), bem como da FCT (25%).

De acordo com o diretor do CIBIO, estas cátedras “vão permitir a criação de uma equipa de investigação sedeada em Mértola”, já existindo “uma grande colaboração da Junta da Extremadura de Espanha, o que vai promover a internacionalização da estação biológica”.

Paralelamente, haverá uma colaboração com o Campo Arqueológico de Mértola, fundado por Cláudio Torres, através da contratação de investigadores para trabalharem na área da chamada arqueobiologia, de modo a fornecerem instrumentos moleculares aos arqueólogos, como retirar amostras de ADN dos fósseis.

A Estação Biológica de Mértola pretende ser um novo centro de valorização e transferência de tecnologia na gestão dos recursos naturais da região, que dará prioridade a cinco áreas de investigação: biodiversidade, ecologia e conservação; fauna e flora; agroecologia; gestão sustentável da caça e recursos silvestres; e adaptação das espécies e atividades agrícolas à aridez.

 

Fotografia de cibio.up.pt