17 Setembro 2022      14:45

Está aqui

Esta estória da competitividade está-nos sempre a tramar!

Somos sistematicamente bombardeados que os nossos territórios do interior e de baixa densidade populacional, não são competitivos face aos territórios altamente povoados do litoral. Que não vale a pena apostar e investir significativamente no interior.

É também comumente ´´aceite´´ que as pessoas vão para onde há economia e a emigração dirige-se para os centros urbanos do litoral. Essa é uma tendência bem velhinha, que ninguém consegue (ou quer) contrariar.

Todos sabemos que a distribuição geográfica populacional e da atividade económica, social e cultural entre o litoral e o interior é demasiado assimétrica. É estatisticamente comprovado que o litoral tem uma população mais jovem, é mais povoado, e naturalmente é mais dinâmico. O contrário se passa no interior, onde é muito mais envelhecido e pouco habitado, pouco dinâmico e de fraca competitividade.

Neste contexto, somos completamente bombardeados com políticas nacionais e comunitárias que defendem ferozmente a competitividade. Temos persistentemente, nos diferentes QÇA (Quadros Comunitários de Apoio), agendas específicas da competitividade. E isso é o que nos ´´lixa´´!

É simples: defende-se quem é mais competitivo. Ou seja, defende-se sempre o mesmo e defendem-se sempre os mesmos. Por isso, as assimetrias agravam-se sistematicamente. Para quê apoiar empresas no interior, se existe pouca dimensão e competitividade? A resposta é assustadora: no interior não há pessoas, por isso não podem ter determinados serviços e projetos. Esta é a resposta estúpida de quem não quer alterar o paradigma do desenvolvimento. E o desenvolvimento só se faz com equilíbrios. Não há Plano B.

O interior (e os territórios de baixa densidade populacional) não podem ser vistos como zonas mais atrasadas, mas com bela paisagem, excelente património, forte identidade e com belos produtos locais. A promoção do desenvolvimento local e rural é a única forma saudável para garantir um desenvolvimento urbano (do litoral) também mais equilibrado e mais sustentável.

A economia não pode ser apenas analisada pela competitividade, por aquilo que dá mais rapidamente o lucro. Isso mata o desenvolvimento! Isso ´´mata-nos´´ no médio prazo. Também é verdade que alguém dizia ´´que no médio prazo estamos todos mortos´´, mas esquecia-se de uma premissa fundamental, estão cá as gerações futuras. E é para elas que devemos promover o desenvolvimento no dia de hoje.

Agora juntou-se outro argumento à competitividade do litoral, mais especificamente o tema da descarbonização. Então qual é a aposta? Investir na descarbonização nos territórios mais afetados ambientalmente. E onde estão esses territórios? Os mesmos de sempre: no litoral, altamente congestionados económica e demograficamente. Então o que vai ser feito? Investir nesses territórios para descarbonizar.

Um exemplo para que fique bem claro: com o argumento da descarbonização, retira-se dinheiro que deveria ser investido no interior, para alargar o metropolitano de Lisboa. Ou seja, investe-se onde já há muita gente, para que vá para lá ainda mais gente.

Fazemos tudo ao contrário. Não somos capazes de compreender que é preciso ter menos gente no litoral para que vivam melhor. Mas precisamos, também, de muito mais gente no interior para que este seja sustentável. Não perceber isto, carregar cada vez mais ´´a proa do navio´´, significa que um dia o navio não vai aguentar a carga e pode afundar-se.