25 Abril 2022      09:52

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A esquerda Portuguesa pós guerra

Parte da esquerda portuguesa, com exceção do Livre, por isso talvez não seja parte mas grande parte, claudicou no assunto Putin. Não na condenação ao ataque, mas no acreditar que este se realizasse. Faço já a minha declaração de interesses, dizendo que fui um dos que não acreditei. Tal como numa outra publicação minha, defendi que a montante do ataque não considerei a Rússia como culpada única, acreditei numa via diplomática de forma a evitar a continuação do avanço da Nato ainda para mais próximo da Rússia e um referendo vigiado para a independência de Donetsk e Lugansk.

Mas nunca achei possível uma expansão militar para todo o país, suportada pela narrativa da desnazificação do país. Com a pressão bélica a Rússia conseguiria que a Ucrânia deixasse cair por terra a adesão à Nato consagrada na sua constituição e talvez admitisse o referendo, mas com esta total agressão os olhos ficam postos no massacre russo e até as próprias populações do Leste Ucraniano culturalmente mais próximas da Rússia poderão ter invertido o seu desejo de pertença à Rússia.

O Bloco de Esquerda e o PCP têm opiniões algo semelhantes, o chamado, “repudiamos o ataque mas”... Esta adversativa não pode impedir de condenar Putin e atacá-lo de todas as formas possíveis, com sanções económicas e não culturais ou bélicas. Quando o PCP no Parlamento Europeu condena o envio militar de armas, o cenário é compreensível. Onde irão parar estas armas quando a guerra acabar?

Às mãos do estado não serão de certeza, criando um mercado paralelo que irá financiar grupos terroristas e deixar o país num provável clima de guerra civil.. No entanto não se ajuda a Ucrânia, contra este Golias armado? É cruel e desumano. O PCP foi vítima da sua ambiguidade histórica, vetusta, de não condenação a uma potência ignóbil e execrável quando do outro lado estão os EUA. Que não nos esqueçamos que ao longo dos anos os EUA também cometeram vários crimes, desde as invasões no Médio Oriente e Ásia ao continuado embargo económico e assassino a Cuba. Todavia esta oposição aos EUA não pode toldar o discurso, e colocar muita da nossa esquerda 100% a favor de uma outra geografia também ela cruel.

O fim da Geringonça veio no momento ideal para António Costa. Se António Costa reforçou todo o seu orgulho de pertença à Nato como seria a relação com 2 parceiros que querem a saída desse tratado? Com a maioria, o PS vira ainda mais as costas a quem lhe entregou o poder em 2015 e encosta-se ao centro mais propício aos interesses patronais do que laborais. Bloco de Esquerda e PCP poderão ver a sua oposição posta em causa devido à temática Russa não favorecendo em nada o interesse de milhares de trabalhadores Portugueses.

Os trabalhadores precisam de uma esquerda que não deambule sobre temas que apenas mancham a sua imagem e que questione o Partido Socialista que rumo tomará neste período de inflação e consequente perda de poder de compra dos Portugueses. Ou temos uma resposta ao nível de 2015 quando combatemos a crise com aumentos salariais por forma a aumentarmos o poder de compra e com isto fomentarmos o mercado nacional, ou se contrariamente cedemos aos economistas que afirmam que um aumento dos salários irá agravar a inflação.

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana

alexandremiguel.c95@outlook.com