29 Agosto 2022      10:49

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Especialistas defendem ligação da Linha do Sul ao Alentejo

A Infraestruturas de Portugal (IP) lançou, no final de julho, a proposta de uma nova linha de alta velocidade entre as duas capitais de distrito, passando por Évora e Beja. No entanto, a empresa tem estudos para a modernização das linhas atuais por um total de 460 milhões de euros, avança o jornal ECO.

Em declarações ao mesmo jornal, dois especialistas em transportes reprovam a nova proposta de uma linha de alta velocidade.

Eduardo Zúquete, especialista em Mobilidade e Transportes, salienta que “a alta velocidade é, pela sua natureza, um sistema exclusivo e nós precisamos de sistemas que favoreçam a inclusão, não a exclusão. […] Uma solução com duas ou três circulações por dia e, portanto, com longos períodos de espera intercalar, é menos eficiente e muito mais cara”.

Já José Manuel Viegas, professor emérito da Universidade de Lisboa, adianta que “a construção de uma linha de alta velocidade pode gerar grandes ganhos de acessibilidade às cidades servidas, mas tem um custo muito elevado que só vale a pena incorrer se houver depois uma utilização intensiva da infraestrutura”.

Para os responsáveis, modernizar a linha atual é a melhor opção. A Linha do Sul, por exemplo, foi totalmente eletrificada a tempo do Euro 2004, num investimento de 225 milhões de euros. E há mais de cinco anos que a IP tem estudos para aproximar Lisboa e Faro pela atual Linha do Sul.

Segundo o ECO, entre Pinhal Novo e Torre-Vã – durante mais de 100 quilómetros –, os comboios podem seguir a 200 ou mesmo 220 km/h, no caso do Alfa Pendular. Contudo, nos 150 quilómetros seguintes, até Tunes, o comboio raramente ultrapassa os 100 km/h. Para acelerar os comboios, a modernização da linha entre Torre-Vã e Tunes pode retirar até 30 minutos ao tempo de viagem, num investimento que pode ascender a 253 milhões de euros.

Para pôr Faro mais perto de Lisboa também é necessário construir a terceira travessia sobre o Tejo (TTT) na região de Lisboa, retirando mais meia-hora à viagem. Lisboa ficaria a duas horas de comboio de Faro. Quando o projeto foi cancelado, o custo estimado, em setembro de 2010, estava previsto um investimento entre 1,7 mil milhões de euros e 1,9 mil milhões de euros. O Programa Nacional de Investimentos para 2030 (PNI 2030) inclui um estudo de viabilidade técnica e económica sobre esta travessia ferroviária.

Para José Manuel Viegas, apostar na atual Linha do Sul “parece ser a opção mais sensata, admitindo que a construção da TTT ocorra durante esta década”. A travessia também pode reduzir o tempo de viagem para Madrid, para o Alentejo e também para o novo aeroporto de Lisboa (“se a decisão incluir o Campo de Tiro de Alcochete”).

A sugestão de alta velocidade da IP também teria impacto sobre a Linha do Alentejo. Atualmente, esta linha funciona entre Barreiro e Beja, mas apenas está eletrificada entre Barreiro e Casa Branca.

Em 2015, um estudo da Refer estimava que as obras de modernização e eletrificação do troço entre Casa-Branca e Beja (63,5 quilómetros) poderiam custar entre 68 e 94 milhões de euros.

Para modernizar e eletrificar o troço Beja-Funcheira (63,7 quilómetros), seriam necessários mais 77 ou 86 milhões de euros, conforme a velocidade máxima pretendida seja de 140 km/h ou de 200 km/h, respetivamente.

Com 27 milhões de euros, seria possível ligar a Linha do Alentejo à Linha do Sul – através da Concordância de Castro Verde – permitindo comboios Lisboa-Faro via Évora e Beja sem inversão de marcha, indo ao encontro da sugestão da IP.

“A reabertura da ligação de Beja à Funcheira poderá justificar-se para assegurar a ligação Beja – Faro se e quando houver uma decisão de não construir a linha de alta velocidade Lisboa – Faro (ou se esta for adiada para um futuro distante), caso contrário não parece fazer sentido, exceto se houver outros investimentos indutores de fortes aumentos de procura”, afirma o professor emérito da Universidade de Lisboa.

Assim, somando as obras na Linha do Sul (sem variante) com a modernização da Linha do Alentejo, seriam necessários 460 milhões de euros para que a viagem entre o Algarve e Lisboa passasse pelo interior e pelo litoral do Alentejo.

 

Fotografia de pt.wikipedia.org