17 Abril 2016      18:07

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ESPECIAL ONU – UM SECRETÁRIO-GERAL PORTUGUÊS?

A ONU - Organização das Nações Unidas nasceu, oficialmente, a 24 de outubro de 1945, com o assinar da Carta das Nações Unidas, em S. Francisco (Estados Unidos) por parte da maioria dos seus 51 Estados Membros fundadores.

A criação da ONU deu-se de uma união entre nações do mundo em prol de projetos de paz e desenvolvimento comum, onde princípios como a justiça, a dignidade humana e o bem-estar de todos estão bem no centro das motivações.

De modo geral, os objetivos das Nações Unidas prendem-se com manter a paz em todo o mundo; fomentar relações amigáveis entre nações; trabalhar em conjunto para ajudar as pessoas a viverem melhor, eliminar a pobreza, a doença e o analfabetismo no mundo; acabar com a destruição do ambiente e incentivar o respeito pelos direitos e liberdades dos outros; ser um centro capaz de ajudar as nações a alcançarem estes objetivos.

Hoje em dia, a ONU é composta por 193 Estados Membros que reúnem em Assembleia Geral e onde cada um tem direito a um voto, seja pequeno, grande, desenvolvido ou em desenvolvimento.

As decisões tomadas pela ONU, apesar de poderem ser votadas por unanimidade, não têm valor vinculativo, mas tornam-se resoluções, que têm o peso da opinião da comunidade internacional e que pode pressionar os países a fazê-las cumprir. 

A sede desta instituição – a maior organização internacional mundial – está em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Na Europa fica em Genebra, na Suíça.
 

 

As eleições para Secretário-Geral

O Secretariado das Nações Unidas é chefiado pelo Secretário-Geral que é eleito para mandatos de 5 anos.  

O primeiro Secretário-Geral foi o norueguês Trygve Lie que considerou o cargo como “o emprego mais impossível do mundo”. Atualmente o Secretário-Geral é Ban Ki-moon, sul-coreano, e que sucedeu ao ganês Kofi Annan em janeiro de 2007. Em junho de 2011 foi reeleito por unanimidade pela Assembleia Geral, mas em dezembro deste ano termina o seu mandato e há já 8 candidatos à sucessão – ainda podem surgir mais - entre eles o ex-Primeiro-Ministro português António Guterres.

O processo de seleção de candidatos teve início esta semana, em Nova Iorque, com a realização de entrevistas – perante os 193 Estados Membros - aos candidatos com o propósito de melhorar a transparência do processo de seleção. Nestas entrevistas, os atuais candidatos tiveram que entregar a sua opinião sobre os desafios e as oportunidades que enfrentarão no próximo mandato à frente da Organização das Nações Unidas, tudo condensado em duas mil palavras e somente com 10 minutos para defender as suas teses. Além disto, os candidatos foram sujeitos a quase duas horas de entrevista em que responderam a perguntas dos Estados-Membro, mas também do público em geral, tendo sido – na terça e quinta-feira passadas – transmitidas em direto via internet.

Após os candidatos serem propostos pelos Estados-Membros e aceites pelo Conselho de Segurança - Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França – serão sujeitos à votação dos membros da ONU, tendo que obter um mínimo de 66% dos votos para ser eleito Secretário-Geral.

 

 

Os candidatos

Dos oito candidatos já conhecidos, quatro são mulheres e quatro são homens e só dois – António Guterres e a nova-zelandesa Helen Clark - não são oriundos de países do leste europeu, nomeadamente, Roménia, Croácia, Bulgária, Montenegro, Moldávia e Macedónia.

António Guterres, lisboeta, terá 67 anos à data da eleição. Engenheiro Eletrotécnico e professor, foi Primeiro-Ministro entre 1995 e 2002 e foi Presidente da Internacional Socialista, de 1999 a 2006. Foi Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR, até junho do ano passado, tendo estado no cargo durante 10 anos.

O Governo português formalizou a candidatura a 29 de fevereiro. O consenso em torno de Guterres, a nível nacional é notório – o PSD também formalizou o apoio “inequívoco” a esta candidatura – mas também a tem granjeado apoios a nível internacional e o jornal britânico “The Guardian” considera mesmo que o português tem “o perfil mais elevado”, muita experiência e paixão pela causa humanitária.

A luta do ex-PM tem sido pela diminuição das desigualdades socioeconómicas, pela inclusão – combate ao racismo, xenofobia, islamofobia e antissemitismo - e pelo preservar da paz mundial.

 

Helen Clark, nova-zelandesa de 66 anos, é a atual diretora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – a terceira posição mais importante na estrutura interna da ONU - e foi primeira-ministra da Nova Zelândia, entre 1999 e 2008, e é considerada uma forte candidata.

 

Danilo Turk – esloveno de 64 anos – foi o 3º presidente da jovem república eslovena de 2007 a 2012. Reputado jurista e professor de Direito, é um diplomata conhecido pela sua luta pela defesa dos Direitos Humanos. Foi o primeiro esloveno no Conselho de Segurança da ONU e foi nomeado por Kofi Annan como secretario general adjunto para os Assuntos Políticos da organização, tendo intervenção no conflito israelo-palestiniano.

 

Outra candidatura de leste surge de outro Estado muito jovem; o montenegrino Igor Lukšić, 38 anos, foi primeiro-ministro durante dois anos dezembro de 2010 e dezembro de 2012. Quando foi eleito, era o mais jovem primeiro-ministro em todo o mundo. Anteriormente, foi também ministro das Finanças de 2004 e 2010 e é o atual ministro dos Negócios Estrangeiros do país balcânico.

 

A búlgara Irina Bokova é diretora-geral da UNESCO desde 2009 – a primeira mulher a fazê-lo - e é foi vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, coordenando as relações da Bulgária com a União Europeia, de 1995 e 1997. Foi embaixadora na França e no Mónaco e existem rumores do eventual apoio russo – a Rússia, por ser dos membros do Conselho permanente da ONU, tem direito de veto.

 

Outra candidata é Vesna Pusic - socióloga e política croata de 53 anos – que foi vice-primeira-ministra e ministra dos negócios estrangeiros croata e é vice-presidente do parlamento do seu país, sendo conhecida pela sua luta pela igualdade de género e direitos LGBT.

 

A Moldávia apresentou a candidatura de Natalia Gherman, vice-primeira-ministra e ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Europeia tendo sido embaixadora em diversos países europeus. O ano passado chegou mesmo a assumir o cargo de primeira-ministra interina durante um mês.

Com 47 anos, já coordenou uma série de projetos da ONU na Moldávia, tendo desempenhado um papel crucial na reforma da administração pública e no aumento da representatividade feminina nos poderes de decisão.

 

Com 68 anos, o macedónio Srgjan Kerim foi presidente assembleia-geral das Nações Unidas (2007-2008) e é um reconhecido diplomata. Entre 2001 e 2003 foi representante permanente da Macedónia na ONU e já foi também embaixador e Ministro dos Negócios Estrangeiros da Macedónia (2000-2001).

 

 

A possibilidade portuguesa

A escolha de António Guterres não será fácil, já que acaba por ser um candidato contracorrente.

Muitos haviam apontado já o sucessor/a de Ban Ki-moon como alguém oriundo da Europa de leste e existem fortes pressões para que seja uma mulher. Aliás, num inquérito realizado a 700 pessoas ligadas à ONU, Helen Clark e Irina Bukova, surgem como as preferidas.

No entanto, a entrevista a António Guterres correu muito bem e, segundo os analistas, colocou-o entre os preferidos a assumir o cargo.

 

Mas ainda podem surgir mais candidatos, existindo vários nomes, essencialmente de mulheres, que têm sido bastante ventilados nos bastidores da diplomacia internacional como a ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Susana Malcorra - que é também a ex-chefe de gabinete do atual secretário-geral Ban Ki-moon - ou Michelle Bachelet, Presidente do Chile.

Mas há um outro nome que tem sido referido com insistência, o da chanceler alemã Angela Merkel, numa candidatura que, a surgir, é considerada como imbatível.

 

 

Imagem de capa daqui

Restantes imagens Ban Ki-moon, Helen Clark, Danilo TurkIgor Lukšić, Irina BokovaVesna PusicNatalia GhermanSrgjan KerimSusana MalcorraMichelle Bachelet e Angela Merkel.