25 Fevereiro 2017      11:19

Está aqui

ÉS.

"PARALELO 39N"

Não te julgues. Não te deves julgar. A cada passo, cada pensamento, a tua mente entope-se de ideias sem que tenham nexo algum ou que constituam em ti uma voracidade de te conheceres melhor. Não te queres conhecer. És. Existes aqui e agora, não te interessa o futuro e o passado, esse não o podes mudar.

Que melhor dia do que qualquer dia para fazer uma reflexão sobre ti próprio, expondo-a aos olhos de todos. És. Existes aqui e agora como os outros 7 biliões que existem aqui e agora, ao mesmo tempo que tu. Nunca te cruzarás com 99% deles nem ambicionarias tal feito. Desses, um número tao largo para ti que és um só e aqui e agora. Não vês o futuro com os olhos de esperança que devias. Não vês, aliás futuro além das lentes de um binóculo que termina no dia de manhã. Não te interessa saber mais do futuro. Não sabes sequer se te interessa vivê-lo além do presente. A dor e o sofrimento que os dias angustiantes e as noites sem dormir podem causar desenrolam a vontade de não os viver e o medo de sentir a agonia da dor da carne, dos ossos a partirem-se no interior e da perda da memória.

És. Só. Existes aqui e agora. Já te cruzaste com gente que admiras, gente a quem reconheces no olhar a bondade e a ternura. Gente cujo objetivo tem o outro no olhar e partilhar a sua felicidade com aqueles que a rodeiam. Nesse 1% com quem te cruzarás, sem que com eles possas sequer trocar uma palavra. És, sentes-te humano e admiras a sua essência e mais do que isso, a sua existência. Também já te cruzaste com aquilo que a humanidade tem de pior. Gente reles e vil cujo olhar e os gestos, as ações não só denunciam mas provam o fel e a amargura, o ódio e a inveja que as povoam. Não são. Existem futilmente aqui e agora. Existirão no futuro mas o seu alimento é a desgraça e o mal dos outros. Sentes. Foste apanhado no seu olhar e nos seus gestos que desprezas. O perdão pode ser aqui e agora no futuro, mas o esquecimento não substitui a memória. És. Memória. Não esqueces nem o bem nem o mal.

És. Aqui e agora. Existes no presente e foste no passado, serás aquilo que te destinarem os dias e as noites que não conheces no futuro. As palavras que são enunciadas serão hoje, como foram no passado e serão no futuro, como uma bala que é disparada ou como uma flor que desponta aos primeiros raios de Sol de um dia sem chuva. Uma ou outra tem objetivos precisos e efeitos também eles muito concretos.

És como tanta gente que te rodeia. Um sorriso, uma lágrima. A junção de genes de dois progenitores. No caminho percorrido, embora a distância te separe, liga-te o pensamento e o carinho. Os dias não são dias sem que se tornem mais doces pela lembrança da família, dos que nos acolhem no peito e nos amam.

És defeitos. Muitos e não os negas. Não terias esse direito, como não tens o direito de os apontar aos outros sem reconhecer os teus próprios. Dos outros, esperas o mesmo. Tal como esperas que, sendo, te reconheçam as virtudes por aquilo que és e existes aqui e agora. Aos outros cabe-lhes reconhecer o mesmo sem qualquer hesitação. És humano. Ser. Pessoa.

Condição humana de estar longe do sítio onde nasceste. Condição de viver um dia de cada vez sem pensar no futuro. Decisões que tomaste quando foste e te fazem o que és, aqui e agora. Ao futuro caberá a decisão de decidir o que serás, a ele só. Talvez condicionado, sempre pelos passos já percorridos, mas com o olhar no vidro que anuncia o romper da nova manhã. Hoje. És. Muitos anos depois, subindo uma escada finita que nos deixa percorrer os degraus e conhecê-los, um a um, um passo a cada momento, sublimes nas diferenças de esforço que empregaste.

És, aqui e agora. Nem tu próprio te conheces inteiramente, como creio que nunca ninguém se conhecerá nunca, pois só todas as situações possíveis e ilimitadas nos fariam ter todas as reações possíveis e imaginárias. Ainda assim, és aqui e agora e isso basta-te para chegar ao fim do dia e esperar que o Sol amanhã nasça e o possas ver, mais uma vez.

 

Imagem mangthuvien.com