25 Setembro 2021      11:32

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Era uma vez uma couve que queria ser alface...

Era uma vez uma couve que queria ser alface porque o tempo é mais ameno no verão, mas que enquanto semente se enganou e acabou longe de casa a ser comida por um esquilo.

Um dia, há muitos anos, nasceu uma couve numa terra que não tinha couves. Ela era uma simples semente. Era uma terra que não produzia nada e que era conhecida pela sua infertilidade. Nessa terra, um dia, caiu esta conhecida semente, vinda não se sabe bem de onde. No início, pela falta de chuva, toda a gente pensou que fosse morrer mas, umas pingas caíram do céu e a couve despertou para a vida, através da semente.

Todos nós originamos de sementes. Há sempre algo que nos cria e que nos fornece as raízes de crescimento. E daí crescemos, e daí nós tornamos couves, plantas, pessoas, tudo…

Esta, porém, é a história de uma couve que nasceu nesse terreno agreste, sem miragens de futuro, sem água e com um solo frio que apenas a neve aguenta.

A couve ali nasceu de uma semente e, desde o primeiro dia, sempre se sentiu deslocada. A couve tinha nascido e crescido no campo errado. A sua verdadeira essência era a de uma alface, a de viver no valor do verão, nascida de uma semente em maio e cultivada com maravilhosos raios de sol, estendendo as suas folhas no solo rico e abundante da primavera-verão. Esse era o sonho da couve.

Infelizmente, nos tempos em que nasceu, nem o calor estava sobre as terras, nem a natureza permitia mudanças de couve para alface.

A questão aqui é a de que seria comida de qualquer forma, fosse couve ou alface. Sendo a primeira, provavelmente seria cozida numa panela, em jantar de couve ou cozido…

Se fosse alface, podia sempre ser salada e feliz com cebolas, tomates e pepinos…

No entanto, a couve, sendo ainda semente, pensou nestas coisas todas e fugiu do terreno que lhe marcara o destino. Não queria ser mais uma couve. Enquanto semente, fugiu o máximo que pode. Pensou que queria ser alface. Pensou no calor e no verão. Pensou em saladas. Não pensou assim tanto porque é um vegetal, mas vela pela intenção.

Na fuga, a semente que seria uma couve eventualmente, pediu ajuda ao vento. Amável, como sempre, o ajudante levou a semente da couve para outro continente. Aterrando lá pensou que o destino a transformara em alface e que seria salada.

Triste foi o destino quando, mal acabara de cair, um esquilo a considerou petisco e devorou os seus sonhos.

Nem em terra gelada, nem em terra quente se podem cumprir os sonhos que não estão prontos a ser cumpridos. Há sementes que não nascem. E, outras há que, apesar dos voos, caem em chão vazio e são dizimadas por predadores…