Há cerca de um mês terminou mais um ano letivo. As nossas crianças foram gozar as merecidas férias, enquanto os seus docentes iniciavam mais uma luta, justa para muitos e descabida para outros. Já agora só um parêntesis: imaginem não contarem 9 anos de escolaridade aos vossos filhos. Se o tempo não existiu para os professores como foi possível as crianças evoluírem durante este período? Mas não é disto que hoje vos quero falar.
Qual o docente, do ensino pré-escolar ou do 1º ciclo, que não ouviu, vezes sem conta, a frase: Emprestas-me um lápis cor de pele? E o que fazem muitos de nós, e as crianças? Disponibilizam-se lápis castanho muito claro ou cor-de-rosa, e se tal não acontece surgem reclamações.
Pois bem, aqui que a intervenção do adulto se torna imprescindível, e de carater urgente. Não podemos permitir que inconscientemente, ou conscientemente, continuemos a alimentar práticas preconceituosas, quase sem darmos por isso. É nestes pequenos gestos que, muitas vezes, se inicia o combate ao racismo institucional. Este começando a manifestar-se muito cedo e, se ao ser pedido um lápis cor de pele, continuar a ser disponibilizada a cor rosa ou o castanho muito claro, mais não estamos a fazer do que perpetuar uma ideologia de que nos envergonhamos.
Na escola compete-nos corrigir. É muito fácil ensinar a respeitar e entender as diferenças. E em casa?
Não é possível democratizar a escola enquanto processos segregativos continuarem a vingar. É nas escolas, frequentadas por crianças de etnias diferentes, que se verificam o maior número de retenções ou pelo encaminhamento precoce para cursos profissionalizantes, muitas vezes desrespeitando os interesses dos alunos. E porquê? Terão por acaso estas jovens menos capacidades que os nossos filhos?
Nas escolas o diálogo multicultural continua muito aquém do expetável. Mas, por outro lado, também sabemos que muitas das etnias com quem convivemos diariamente, desconhecem os seus deveres e os seus direitos, no que respeita à integração societária. O esclarecimento ainda está por fazer.
Tudo persiste em girar em torno de um monoculturalismo: os manuais, os currículos, a formação contínua…Esta muito raramente disponibiliza ações direcionadas para as práticas multiculturais, e as preocupações com o tema são escassas mesmo sabendo que é crescente o numero de crianças culturalmente diferentes.
Trabalhar com, e para a diferença exige empenho e dedicação, ocupa tempo, muito tempo, e é sempre muito difícil questionar o que nem sempre é fácil de alterar.
A relativização do tema (racismo) e os diferentes conceitos culturais que lhe estão agregados, não dependem apenas dos regimes políticos. Cabe, aos docentes, denunciar o que está errado e ajudar a esclarecer conceitos incompreensíveis.
Ninguém nasce racista, mas também ninguém nasce educado. Pouco importam as minhas definições, o que verdadeiramente me interessa são as verdades das minhas liberdades de pensar e de questionar. As respostas acabarão por surgir e, levantar dúvidas, torna-se inevitável.
O racismo cultural continua a circular nas redes sociais, continua vivo nas escolas, continua a marcar presença em todo o lado. Assim, procurando coisificar verdades inexistentes, busco contribuir para que lhe seja dada a importância devida e tão pouco reconhecida.
Exigir que a escola seja para todos é muito mais que um desejo, é uma obrigação.
Imagem de capa de George Lebada
Siga o Tribuna Alentejo no e no . Junte-se ao Fórum Tribuna Alentejo e saiba tudo em primeira mão.