19 Novembro 2020      18:45

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A Empatia na Entrevista de Emprego

Os Departamentos de Recursos Humanos têm conquistado um justo aumento de credibilidade e influência nas empresas, e hoje são capazes de dar uma resposta mais competente e mais abrangente, abarcando temáticas muito relevantes para o seu desenvolvimento, descolando-se assim da imagem dos antigos departamentos de pessoal, responsáveis quase exclusivamente pelo processamento de salários ou pelo despedimento de colaboradores.

O Recrutamento é uma das imagens de marca do Departamento de Recursos Humanos!

A entrevista de emprego, obviamente associada ao Recrutamento, continua a ser o método de seleção a que as empresas mais recorrem, não apenas por ser o processo mais rápido, mas também por ser o mais simples. No entanto, esta simplicidade aos olhos do empregador contrasta com a ansiedade que o candidato poderá sentir, independentemente do seu grau de senioridade. Vários estudos realizados no âmbito da ansiedade em contexto de entrevista são reveladores de uma relação direta entre os elevados níveis de ansiedade e o insucesso no processo de recrutamento. Apesar de serem resultados que não geram qualquer surpresa, denunciam uma frágil capacidade dos candidatos mais ansiosos em gerir convenientemente as suas emoções, ao ponto de estas terem grande influência na tomada de decisão relativamente à continuidade no processo, por mais forte que seja a sua experiência profissional. A pandemia e a tendência de contração e de não contratação agudizaram este sentimento, sendo particularmente importante que quem realize entrevistas tenha em conta o contexto pandémico que estamos a viver.

Ao longo da minha carreira, tive oportunidade de entrevistar e conhecer algumas centenas de candidatos. Como em qualquer entrevista de emprego, tive sempre em conta que o candidato não me conhecia, e que este diferente nível de poder e a relação quase disfuncional tendem a ser minimizados quanto mais elevada for a empatia gerada entre as duas partes. Só assim é possível criar uma relação favorável ao desenvolvimento de uma conversa formal, mas repleta de conteúdo, e com níveis de ansiedade reduzidos ao mínimo. No momento da decisão, não escondo que o perfil comportamental tende a revelar-se determinante, muitas vezes em detrimento de um percurso profissional mais sólido de outros candidatos.

O recrutador tem assim um papel absolutamente decisivo no desempenho do candidato na entrevista!

O momento é oficial e a conversa formal, mas enquanto recrutador sei que o meu comportamento vai influenciar o comportamento do candidato. Por essa razão, tenho a responsabilidade de criar uma conversa agradável de âmbito profissional, onde o candidato se sinta suficientemente confortável para expor algumas das suas vulnerabilidades (sim, é possível transmitir emoções numa entrevista de emprego), mas também onde revele o seu potencial para a Organização, transmitindo, muitas vezes sem ter de o verbalizar, as razões que o tornam único e a escolha certa.

Cabe agora aos recrutadores e aos candidatos trabalharem a sua capacidade de gerar empatia com as pessoas que o rodeiam.

Como me parece evidente, tenho o melhor trabalho do mundo!

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Sobre o autor: Duarte Meneses é natural de Lisboa mas cedo se apaixonou por Évora e é lá que hoje reside. Licenciado em Psicologia com especialização em Psicologia do Trabalho, é atualmente aluno de Mestrado em Gestão na Universidade de Évora. Trabalhou como Consultor de Recursos Humanos em Portugal e Angola, e atualmente é Gestor de Recursos Humanos em empresas agrícolas da região.