26 Março 2022      14:03

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E viva a Democracia!

O dia 24 de Março marcou o momento em que o tempo em democracia ultrapassou os anos que duraram a ditadura portuguesa. Esta data coincidiu com as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril. Um marco.

Em termos práticos, temos mais pessoas em Portugal que viveram só no período da democracia, do que todos aqueles que atravessaram os dois períodos.

Quando foi o dia 25 de abril de 1974 encontrava-me no primeiro ano da Escola Primária (hoje 1º ano do 1º ciclo). Lembro-me um pouco dos acontecimentos da época. Mas recordo-me perfeitamente de toda turbulência nos anos subsequentes. Lembro as conversas em casa, os entusiasmos, lembro os riscos e os receios de uma revolução turbulenta. Lembro as músicas que se repetiam sem fim (´´uma gaivota voava, voava…´´), os desenhos na primária (as pombas brancas com ramo de oliveira no bico). Lembro os comícios cheios de gente. Na prática, um novo mundo que estava a acontecer.

Na realidade, a minha geração e as gerações que se seguiram sentem a democracia como algo adquirido. E isso parece-me extremamente positivo. É verdade que não devemos esquecer o passado e relembrar alguns riscos existentes. Mas o mais importante, a democracia não pode ter recuo.

Não se podem fechar as portas da liberdade. A liberdade política, de reunião, de manifestação, mas sobretudo a liberdade de expressão e pensamento, não podem ser postas em causa. Evidentemente, a democracia tem deficiências, mas é a assunção dos mesmos erros que a engrandecem.

Quanto mais temos a noção que a democracia é algo adquirido, é sinal do reforço da sua própria maturidade. Evidentemente não nos podemos descuidar e é preciso estar atento aos novos sinais de forças antidemocráticas. Numa sociedade liberal como é a portuguesas e da União Europeia, a democracia é algo inquestionável. Tem de ser mesmo.

Também me parece mais ou menos evidente que cada povo tem a sua forma de ensaiar a aprendizagem da democracia. Nenhum o conseguiu sem tensões e conflitos graves. Apesar de alguma originalidade no processo democrático português, também teve as suas tensões e conflitos.

Agora, quando olhamos à distância para o que se passa na Ucrânia, através da invasão russa, os valores da democracia parecem-nos mais evidentes. Quando vimos um cidadão russo a ser fortemente reprimido pelas forças policiais do seu país por se manifestar com um cartaz em branco, percebemos com toda a nitidez o que é estupidez das ditaduras.

Por isso mesmo, sabe-me bem sentir a democracia como algo adquirido, algo inquebrantável. É esta democracia que me permite dizer livremente o que penso nestas crónicas.

E viva a democracia!