Até ao início do mês de abril, aposto que muitos portugueses não sabiam que existia um país chamado Panamá. Arrisco e até vou mais longe: aposto que alguns jornalistas não sabiam da existência deste país. Hoje, tudo o que é jornalista escreve sobre este país. Sobre as consequências que os Panama papers tiveram. Que o governo da Islândia implodiu à conta desta investigação. E até que o Sr. Idalécio é um perito das offshore.
Eu não vou escrever sobre os papers do Panamá (os meus papers são outros…) nem tão pouco sobre as offshores. O principal motivo? Não percebo grande coisa do assunto, confesso… Mas percebo o suficiente para saber que as offshores são legais. Isso mesmo, caro leitor. O que pode não ser legal é a utilização dada às mesmas.
Porque é que este pormenor faz toda a diferença? Porque a imprensa adora fazer manchetes sensacionalistas e contar histórias para leitor comentar e partilhar, mas sem sempre ser totalmente rigorosa na abordagem que faz.
Atenção que não estou contra a investigação em causa nem tão pouco contra a criminalização de atividades ilícitas que recorram a offshores (ou, na realidade, a qualquer outro mecanismo, legal ou não). E, caro leitor, também não tenho nenhuma offshore nem objetivos de recorrer a tais serviços (tomara eu resolver as minhas coisas, recorrendo a mecanismos onshore). Nem sou amigo do Sr. Idalécio. Só que aborrece-me que haja pessoas a escrever e a dar opinião sobre tudo, sem saber sobre o que está a falar.
Em primeiro lugar, existem offshores pelo menos desde a Grécia Antiga, com o objetivo de se reduzir a carga fiscal nas operações mercantis. Em segundo lugar, existem atividades lícitas relacionadas com as offshores. No link disponível no fim da crónica pode encontrar um vídeo que envolve explicação das ofsshores com mealheiros.
O problema de fundo, a meu ver, é que muita gente discute o problema sem saber o que está em causa. No limite, a tal questão que nem se saber o que é o Panamá (muito menos onde fica).
Sempre que vejo pessoas a falar de tudo e de nada, lembro-me de um episódio em 2004: na altura Portugal venceu o Torneio das 6 Nações B de râguebi. Num telejornal de um canal generalista, no habitual espaço de comentário, alguém dá os parabéns à seleção portuguesa e indica que no ano seguinte Portugal subiria e iria jogar na primeira divisão do Torneio das 6 Nações… É assim que me sinto a ler muitas coisas… E não, não é só sobre offshores…
Imagem de capa daqui.
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