4 Março 2016      16:32

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D'ÉVORA COM AMOR

São a Sandra e o Luís Pinto e abandonaram Lisboa há 3 anos para se fixarem em Reguengos de Monsaraz, mais precisamente na aldeia de Santo António do Baldio, a partir de onde nasceram os vários projetos a que o casal se dedica, entre os quais D’ Évora com Amor. Conheça melhor as peças de artesanato da sua autoria em https://www.facebook.com/DEvoraComAmor/?fref=ts

Tribuna Alentejo – O que motivou a mudança para terras alentejanas? A vossa relação com o Alentejo na época em que viviam em Lisboa já era próxima?

Sandra Pinto – Se podemos falar de sonhos, este era o nosso. Sabíamos que assim que surgisse a oportunidade não iriamos olhar para trás. Foi o que aconteceu. Uma mudança profissional na carreira do Luís acabou por ditar a tão desejada saída de Lisboa. A escolha do Alentejo como destino não é recente. Começou numa escapadinha de fim-de-semana, depois surgiu a casa de férias e por fim encaixotámos cerca de 40 anos de vida e adotámos este lugar onde hoje vivemos. Podemos dizer que foi amor à primeira vista. A nossa vida sempre conheceu a alma da cidade mas o apelo de vir para o campo sempre nos inquietou. Há muitos anos que trabalhamos com artesanato. Eu a tempo inteiro, fazendo feiras de artesanato, e o Luís em part-time. Ele trabalhou na agência Lusa onde durante 20 anos exerceu a função de Jornalista. Uma reestruturação na agência abriu as portas para podermos sonhar com aquilo que sempre desejámos, sair de Lisboa e vir para o Alentejo. Não hesitámos e vimos nesta situação uma oportunidade. Foi preciso uma dose de fé e uma pitada de loucura para estarmos onde estamos hoje.

Tribuna Alentejo – A cerâmica sempre esteve presente na vossa vida ou foi um interesse que surgiu mais tarde?

Luís Pinto – Desde 2002 que trabalhamos na área do artesanato. Já trabalhámos muitos materiais e já abordámos muitas áreas. A cerâmica é a mais recente. Começou em 2010. Quando iniciámos os trabalhos em cerâmica os presépios foram o tema escolhido. Na altura em que decidimos mudar, a Sandra sugeriu que dentro da área da cerâmica figurativa o tema fosse o Alentejo e as suas gentes.

Tribuna Alentejo - Em que circunstância surgiu a D'Évora com Amor?

Sandra Pinto – A mudança implicava criar estruturas para que pudéssemos iniciar um negócio. Decidimos abrir uma loja onde pudéssemos vender as nossas peças e as peças de outros artesãos. Em parceria com cerca de 30 colegas abrimos as portas em Évora onde estivemos 2 anos, tempo durante o qual fomos muito bem recebidos pelos eborenses e pelos visitantes de Évora. Foram dois anos de trabalho em equipa que se revelaram uma experiencia enriquecedora. Passado este tempo de adaptação à grande mudança, percebemos que o caminho do nosso projeto implicava abandonar este espaço físico, que nos consumia o tempo que não tínhamos para estar no atelier a criar. Percebemos que estávamos constantemente em rutura de stock das nossas peças e que não conseguíamos marcar presença em Feiras de artesanato. Por isso, mantemos o nome com que iniciámos o projeto, até porque o público nos identifica com este nome, mas encerrámos o espaço em Évora.

Tribuna Alentejo – Quem são as personagens que animam os cenários alentejanos que recriam através da moldagem do barro? Como nascem e quem lhes dá vida?

Luís Pinto – As figuras que representamos são o retrato das gentes alentejanas. Podem ser as vizinhas, os compadres, a avó que se senta à porta ao entardecer, entre outros. São como que fotografias em 3D. São imagens que vamos captando na nossa vivência diária e depois retratamos no barro. Os “vizinhos “são criação da Sandra e eu faço a pintura das peças. Tribuna Alentejo - A imagem que passam das aldeias alentejanas e dos seus habitantes é atual? De que forma se inspiram, por exemplo, em Santo António do Baldio, para criarem os cenários? Sandra Pinto – A imagem que tentamos recriar é atual, até porque nas aldeias as gentes têm uma postura corporal, hábitos e costumes que as tornam singulares. Em Santo António do Baldio ou em qualquer aldeia alentejana. Para além dos passeios e da vivência diária também procuramos pesquisar, sobretudo imagens, sobre esta região.

Tribuna Alentejo – Falem-nos um pouco acerca do processo de criação e de conceção das peças. Como funcionam os dois enquanto equipa?

Luís Pinto – Bem, procuramos planear o que fazer, dividir tarefas e partilhar ideias. O processo criativo passa pelos dois. A execução das peças é exclusivamente da Sandra e a pintura é tarefa minha. O tratamento das madeiras que usamos em alguns dos nossos trabalhos também é da minha responsabilidade. Já trabalhamos em equipa há muitos anos. Desde 2002, quando iniciámos o trabalho no artesanato, que estamos muitas horas juntos e aprendemos a partilhar e dividir tarefas para chegar a um objetivo comum.

Tribuna Alentejo – Que influência teve a classificação do Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade e a escolha de Reguengos de Monsaraz como Cidade Europeia do Vinho em 2015, no vosso trabalho?

Sandra Pinto – Foram dois acontecimentos marcantes que não podíamos deixar de retratar nas nossas peças. Eram duas áreas que já abordávamos mas que ganharam força com o reconhecimento público que tiveram entretanto. O cante é uma peça interessante de personificar, já temos uma oferta variada. A cidade europeia do vinho levou-nos a criar as tabernas a que alguns dos nossos amigos e clientes chamam de “Rede Social”.

Tribuna Alentejo – Onde se podem comprar as vossas peças para além da página do Facebook?

Luís Pinto – As nossas peças podem também ser adquiridos no nosso site www.devoracomamor.com ou podem sempre cruzar-se connosco em Feiras de Artesanato, que vamos oportunamente anunciando na nossa página do facebook. Neste momento temos peças à venda na loja “ Arte e Alma” no Porto e estamos a trabalhar noutras parcerias em outras zonas do país.

Tribuna Alentejo – Para além deste, a que outros projetos se dedicam?

Sandra Pinto – No momento em que mudámos Reguengos de Monsaraz tinha uma lacuna na oferta turística na área do alojamento local. Aproveitámos a nossa casa de férias em São Pedro do Corval, fizemos algumas melhorias e começámos a explorá-la como casa de aldeia. Percebemos desde cedo que há algum património que acompanha o envelhecimento dos seus habitantes. Este tipo de projeto tem um bem comum, para além de atrair visitantes a aldeias mais isoladas também permite a recuperação de casas de aldeia que se encontram abandonadas e algumas devolutas. Começámos com a Casa do Compadre, em São Pedro do Corval, depois recuperámos outra casa em Santo António do Baldio, à qual chamámos Casa da Comadre. No ano passado, o Corval viu nascer a Casa do Lêntejo e contamos, ainda este ano, dar vida a mais uma habitação que estava devoluta, em risco de ruína, a qual ainda não batizámos mas que vem sem duvida aumentar a família das Casas de Taipa. Podem visitar este projeto em www.casasdetaipa.com

 

Tribuna Alentejo – Pensam regressar a Lisboa algum dia?

Luís Pinto – Sim. Regressamos frequentemente. Mas são normalmente estadias curtas e sempre com uma vontade enorme de regressar ao Alentejo.