12 Março 2021      18:43

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Derme

De que serve vestir o traje

se por dentro somos carne

e se quando não nos serve

nos sentimos desnudos, vazios.

 

A cidade tem pele camaleónica

muda consoante o estado do tempo

e das searas de cimento gigantes

que arranham os céus

e cegam horizontes.

 

Os campos e as montanhas

deixaram a sua pele secar

para que a cidade

pudesse existir,

e ficaram por lá,

longe do tempo e da estrada,

para que ninguém os

pudesse sentir.

 

Para que o campo seja salvo

é preciso tratar das suas searas

− as que nos permitem

respirar e olhar o céu

e o horizonte

sem tempo.

 

Se naquele instante

− não sei bem se é enquanto expiramos

ou inspiramos o ar −

chegarmos à conclusão

de que na vida tudo é questão de querer,

talvez as saudades da cidade

 

possam aparecer.

 

 

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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta. www.claudino.eu