De que serve vestir o traje
se por dentro somos carne
e se quando não nos serve
nos sentimos desnudos, vazios.
A cidade tem pele camaleónica
muda consoante o estado do tempo
e das searas de cimento gigantes
que arranham os céus
e cegam horizontes.
Os campos e as montanhas
deixaram a sua pele secar
para que a cidade
pudesse existir,
e ficaram por lá,
longe do tempo e da estrada,
para que ninguém os
pudesse sentir.
Para que o campo seja salvo
é preciso tratar das suas searas
− as que nos permitem
respirar e olhar o céu
e o horizonte
sem tempo.
Se naquele instante
− não sei bem se é enquanto expiramos
ou inspiramos o ar −
chegarmos à conclusão
de que na vida tudo é questão de querer,
talvez as saudades da cidade
possam aparecer.
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta. www.claudino.eu