19 Outubro 2020      09:24

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A díade sensorial e motora e o uso da telereabilitação

Durante o desenvolvimento normal da criança torna-se imprescindível que a mesma explore o ambiente à sua volta, tocando e sentindo os objetos que encontra. A perceção sensorial tátil, permite à criança contactar diretamente com os vários estímulos que a rodeia, desencadeando sobre eles uma ação motora que, de acordo com o feedback que recebe, ajusta ao seu organismo e ambiente. Nas primeiras fases de vida do bebé após o nascimento, o seu comportamento é involuntário, ou seja, este reage sobre os estímulos do meio de forma automática e sem controlo voluntário do seu comportamento. Os reflexos primários são exemplo disso (e.g., reflexo de moro, preensão, sucção, entre outros), pois permitem à criança poder sobreviver nos primeiros meses de vida. Mas à medida que o Sistema Nervoso vai amadurecendo, a criança vai adquirindo cada vez mais controlo sobre a sua conduta motora (Leisman et al., 2016; Papalia et al., 2009).

Porém, quando por algum motivo é necessário ser trabalhado o desenvolvimento motor ou visual da criança (e.g., rotação da cabeça, movimento dos olhos, etc.), o recurso à telereabilitação pode ajudar a alcançar resultados positivos neste sentido, ainda mais no momento em que a sociedade atual se encontra. O estudo de Sgandurra et al. (2017), teve como o objetivo verificar os efeitos de uma ferramenta de telereabilitação de intervenção intensiva e individualizada, conhecida como Caretoy, no desenvolvimento motor e visual em crianças recém-nascidas prematuras, com idades entre os 3 e os 6 meses. Este estudo pode comprovar a existência de benefícios no comportamento motor e acuidade visual das crianças que participaram na intervenção comparativamente a crianças que apenas receberam os cuidados considerados normais e de rotina.

Neste sentido, as crianças podem beneficiar de uma intervenção precoce especializada realizada em casa que se revela efetiva não só para o seu desenvolvimento sensoriomotor mas também para a sua aprendizagem (Sgandurra et al., 2017; http://www.caretoy.eu/). A aplicação deste tipo de intervenção permite aos pais e terapeutas, a obtenção de conhecimentos e competências sobre novas ferramentas terapêuticas que são um investimento no desenvolvimento futuro.

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Lídia Serra é Doutora Internacional em Neuropsicologia pela Universidade de Salamanca. 
Docente de Neurociências e Neuropsicologia do ISEIT – Instituto Piaget de Almada; Docente da UC de “Niveles Táctiles, Motricidad, Lateralidad y Escritura” e Diretora de TFM do Máster en Neuropsicología y Educación da Univerisdad Internacional de la Rioja, Espanha. Membro do Centro de Investigação CLISSIS da Universidade Lusíada de Lisboa.