23 Junho 2016      12:59

Está aqui

A CRISE DOS REFERENDOS!

Em 1975 deu-se o primeiro referendo sobre se o Reino Unido deveria ou não sair da CEE (antiga UE). Na altura o Partido que estava no Governo era o Trabalhista. O mesmo encontrava-se dividido e tinha na oposição uma Margaret Thatcher a apoiar a permanência do Reino Unido na Comunidade Económica Europeia. Ganhou com larga maioria a permanência na CEE. À semelhança do que aconteceu há 41 anos, o Partido no poder encontra-se completamente dividido, mesmo que não sejam os Trabalhistas a governar, desta vez.

O Conservador e Primeiro-Ministro, David Cameron, depois de ver o seu Partido vencer com maioria absoluta, sem necessitar do apoio político dos Liberais Democratas de Nick Clegg (pró-Europeu), viu-se obrigado a  lançar o referendo de forma a satisfazer os Eurocéticos do seu próprio Partido, bem como tentar travar o crescimento eleitoral que o UKIP (pró-independência) tem vindo a ter desde 2005.

Hoje decide-se um referendo que confunde até as próprias sondagens que dão, no geral, um empate técnico. Demonstrando que serão os indecisos que decidirão os resultados finais.

A saída do Reino Unido prejudica não só a União Europeia no seu todo, mas também Portugal, particularmente. São à volta de 400 mil Portugueses a residir no Reino unido, sendo que muitos deles não têm cartão de residência, nem dupla nacionalidade. O que torna insegura a sua permanência no Reino Unido, em caso de Brexit.

 Segundo um estudo do centro de estudo económico da Euler Hermes, a saída do Reino Unido reduzirá o nosso PIB Nacional entre 2017 e 2019 em 0,2%, ou seja, 400€ milhões.

Sendo o sector automóvel Português dos mais afectados, com a AutoEuropa, por exemplo, a concentrar à volta de 12% das suas produções para o Reino Unido.  Os efeitos económicos poderão ser imprevisivelmente negativos não só com os custos alfandegários, mas também com a desvalorização da libra, estimando-se uma desvalorização na ordem dos 10%., caso o Brexit vença.

Um outro estudo da consultora Global Counsel, coordenado por Gregor Irwin, antigo quadro do Tesouro Britânico e ex-economista no Banco de Inglaterra, refere que Portugal é o 4º País dos outros 27 da UE, mais exposto à saída do Reino Unido, a seguir à Holanda, Chipre e Irlanda (pág. 31 e 32).

Após alguns exemplos das consequências sociais, demográficas, económicas e financeiras, um dos mais negativos é sem dúvida a consequência política. Começando no próprio Reino Unido, em que a Escócia e a Irlanda do Norte se mostram mais inclinados para a permanência na UE, do que a Inglaterra e o País de Gales. Se acontecer o Brexit, será muito provável e legitimo o pedido de referendo para a independência da Escócia, por parte dos Escoceses perante o Reino Unido.

A Comissão Europeia, o Conselho Europeu, os Membros da Zona Euro e todos os seus Estados-Membros têm a obrigação de refletir esta tomada de posição Britânica, independentemente dos resultados do referendo. Os tempos são outros. Já não vivemos no pós-2ª guerra nem no pós guerra-fria. É preciso discutir uma nova forma de actuar por parte das Instituições Europeias. É necessário ouvir mais as necessidades de todos os Estados-Membros, demonstrar que a União Europeia influencia as posições de cada um dos 28 Países mas que respeita, acima de tudo, a soberania e as diferenças de cada um.

Urge, debater-se largamente o futuro do projecto Europeu, com o fim de impedir Países que têm neste momento lideres mais radicais, como é o caso da Hungria e Polónia, de avançarem com um referendo para as suas saídas, também. Os principais actores políticos Europeus têm a obrigação de entenderem porque é que já se fala em referendos, em Países como a Dinamarca, Suécia e República Checa, com o fim de evitar os mesmos.

Só com uma União Europeia reformista e actual, agregadora, forte e respeitadora das diferenças claras de cada um dos vinte e oito Países, é que se torna possível garantir a manutenção dos Estados-Membros que integram o projecto Europeu e evitar pretensões de referendos por parte de alguns radicais/demagogos como Iglesias, Geert Wilders, Marine Le Pen, Viktor Órban ou Luigi di Maio.

Hoje os Britânicos decidem se querem continuar na União Europeia ou se querem ser os responsáveis pelo surgimento de uma nova Ordem Internacional !

 

 

Imagem © Cartoon de Marian Kamensky, "Brexit".