22 Março 2021      14:20

Está aqui

Cores que nos guiam

Matriz de risco apresentada por António Costa na apresentação do plano de desconfinamento LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Na apresentação do plano de desconfinamento, que permite dar início a um levantamento gradual e faseado das medidas restritivas impostas, António Costa apresentou um gráfico que permite o acompanhamento da evolução da pandemia. Logo após a apresentação e explicação do gráfico, surgiram as mais diversas piadas e críticas, algumas manifestando pouca compreensão de como se deveria interpretar o gráfico.

Matriz de risco apresentada por António Costa na apresentação do plano de desconfinamento LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Na realidade este gráfico é bem mais simples de interpretar do que possa parecer à primeira vista, como se pode ver na breve descrição que se segue.

O gráfico apresentado por Costa, entretanto também apelidado de semáforo de desconfinamento, é uma matriz de risco baseada em duas variáveis:

- R(t) = a taxa de transmissibilidade

- TI = a taxa de incidência (número de novos casos a 14 dias por cada 100 mil habitantes)

que correspondem aos dois indicadores principais do conjunto de indicadores que estabelecem as “linhas vermelhas” para uma resposta eficaz à epidemia, em Portugal.

O R(t) está representado no eixo horizontal do gráfico e a TI no eixo vertical.

 

O acompanhamento da evolução do comportamento das variáveis é feito com base na localização da cruz marcada no gráfico, situada no ponto cujas coordenadas correspondem aos valores de cada uma das variáveis.

A importância da avaliação conjunta das duas variáveis, R(t) e TI, deve-se ao facto de nenhuma delas, por si só, permitir o “retrato” completo da situação. Se olharmos, por exemplo, apenas para o valor de R(t), a informação restringe-se ao número de pessoas que, em média, cada doente pode infectar. Em termos gerais, um R(t)>1 indica uma tendência crescente no número de novos casos e R(t)<1 indica uma tendência decrescente no número de novos casos, mas um determinado valor de R(t) numa altura em que há poucos casos activos, tem menor gravidade do que o mesmo valor de R(t) numa altura em haja um grande número de casos activos.

Ainda que tal não esteja explicito no gráfico que Costa apresentou, para o eixo horizontal é considerada uma escala cujo valor máximo é 1,5, permitindo representar valores de R(t) entre 0,5 e 1,5, e para o eixo vertical é considerada uma escala cujo valor máximo é 240, permitindo representar valores da taxa de incidência (TI) entre 0 e 240.

Os diferentes níveis de risco são traduzidos pelas cores dos quatro sectores (quadrantes) em que o gráfico está dividido.

O sector 1 (verde), que representa o nível de risco mais reduzido, e aquele em que se deseja que esteja a cruz, corresponde a valores de R(t) inferiores a 1, acompanhados de valores da TI inferiores a 120. Sendo estes os valores limite do nível de risco mais baixo, sempre que uma das variáveis ultrapasse esses valores a cruz passa a estar fora do sector verde, havendo 3 possibilidades, ilustradas nas figuras a seguir:

 

- Se o R(t) for superior a 1 e a TI inferior a 120, a cruz surgirá no Sector 2.

 

- Se o R(t) for inferior a 1 e a TI superior a 120, a cruz surgirá no Sector 3.

- Se o R(t) for superior a 1 e a TI superior a 120, a cruz surgirá no Sector 4.

 

Nos sectores 2 e 3, a gradação de cores, de amarelo-esverdeado até laranja-forte, indica que o nível de risco se agrava quanto mais acima e mais à direita estiver a cruz.

A cor vermelha do sector 4 representa o nível de risco mais elevado.

Quando a matriz de risco foi apresentada aos portugueses, o valor de R(t) era de 0,78 e a taxa de incidência era de 105, pelo que a cruz se encontrava no sector 1. Uma semana depois (18-03-2021), a cruz por lá continua, correspondendo a um valor de R(t) de 0,86 e uma taxa de incidência de 87,2.

Se a cruz se mantiver no sector 1 será possível avançar com as medidas previstas.