19 Abril 2018      14:06

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Conversa com Camões

“Esta é a ditosa pátria minha amada”, expressou Luis Vaz de Camões no canto terceiro da sua obra poética “Os Lusíadas”, e segundo vários registos, concluída no ano de 1556, tendo sido publicada pela primeira vez em 1572.

Entre a primeira data e hoje, dia 17 de Abril de 2018 passaram 456 anos. O que aconteceu entretanto?

Vamos recorrer à nossa maravilhosa capacidade criativa e imaginar que estamos numa boa conversa informal com Camões, cujo tema principal é a nossa, tão nossa, Língua Portuguesa.

Confirmamos que a mesma (segundo registos) teve origem no Reino da Galiza e no norte de Portugal, e que em 1139 se expandiu para sul. Informamos também que é uma das línguas oficiais da União Europeia, com aproximadamente 280 milhões de falantes, que é a 5º língua mais falada no mundo e é conhecida como a sua língua, a Língua de Camões.

Diríamos também que, em alguns momentos, a mesma tem sido substituída, para não falar nas sucessivas actualizações do Acordo Ortográfico, que fazem balançar e transgredir o tão desejado feriado nacional, 10 de Junho: Dia de Portugal, de Camões e da Comunidades Portuguesas.

Gostamos muito desse feriado, como gostamos muito de ser portugueses, mas por vezes a moda (que é uma senhora muito viajada, com personalidade inconstante), leva e traz consigo tendências das quais até conseguimos achar alguma piada mas que, no fundo, demonstram alguma falta de paixão e amor pelo que é nosso, que é como quem diz, por cada um de nós. Não é nada de extraordinário, ou é? Sendo tão simples, complicamos porquê? O que leva os portugueses a incluir na comunicação diária e pessoal outras línguas e expressões? Qual a razão? O que mede o nível de beleza e aceitação social, por exemplo, aquando da publicação de uma fotografia nas redes sociais? Quão diferente é legendar algo como sunset party ao invés de festa ao pôr-do-sol? Dou exemplo de, um baile de Verão, numa das nossas aldeias alentejanas. Baile esse que não tem tradução possível, por ser uma tradição tão única e de carácter tão singular, que não seria totalmente igual num qualquer outro ponto do mundo.

É relevante compreendermos, nos mais variados exemplos do dia-a-dia que, a heterogeneidade e diversidade cultural, são fulcrais para o desenvolvimento de uma sociedade, não só para olhar para a diferença de cada um e extrair dela um conhecimento, mas também para perceber a relação entre o Eu o outro, conduzindo à descoberta do papel individual e grupal nesta cápsula que é o mundo.

Contudo, e com a elevada taxa de emigração, o despovoamento da região interior, o défice de conhecimento da língua portuguesa traduzida em formulações muito negativas de frases comuns, o abandono escolar, a falta de curiosidade, é necessário que a outra fatia da população (aquela que consideramos aparentemente mais capaz de compreender estas questões) dê o exemplo (mais prático e menos teórico), de forma a incrementar e abraçar a língua materna.

Cabe a cada um de nós, que apreciando muito ou pouco o que aqui deixo escrito, priorizar uma das ferramentas que utilizamos para comunicar, e quer no Alentejo quer num outro local do planeta, envolvermos os demais e deixarmos a impressão digital chamada saudade (a palavra mais Portuguesa de todas).

Fica a alegria de ser Portuguesa e Alentejana, na companhia de Luis Vaz de Camões. Muito mais lhe diria, mas vou guardar essa conversa para um próximo pôr-do-sol num qualquer terraço perto de si.

 

Verdes são os campos

 

“Verdes são os campos,

De cor de limão,

Assim são os olhos do meu coração.

 

Campo, que te estendes,

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela,

Vosso pasto tendes,

De ervas vos mantendes,

Que traz o Verão,

E eu das lembranças,

Do meu coração.

 

Gados que pasceis,

Com contentamento,

Vosso mantimento,

Não no entendereis;

Isso que comeis,

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.”

 

Luis Vaz de Camões

Imagem de capa de pontofinalmacau.wordpress.com