12 Junho 2020      16:46

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Comprar empresas falidas

Todos vimos o que nos custou salvar bancos depois da crise financeira de 2008. Entre BPN, BPP, Banif, BES e CGD vamos em 17 mil milhões de euros! E o problema continua por resolver. Ainda no ano passado, o governo pediu ao parlamento autorização para gastar mais quase mil milhões com os restos de dois bancos falidos. Se em 12 anos foi a grande custo que conseguimos aproximar a situação do equilíbrio, neste momento apenas podemos imaginar o que serão os próximos anos, depois da violência com que a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus está a afetar a nossa economia.

E é sobretudo por isto que a decisão agora tomada acerca do futuro da TAP não podia ser mais errada nem vir em pior altura. Se em relação aos bancos se reuniu algum consenso em torno da ideia de que algo tinha que ser feito para proteger as poupanças dos portugueses, numa altura em que não existia Fundo de Garantia de Depósitos, já a intervenção na TAP se reveste de contornos muito menos pragmáticos e muito mais ideológicos.

A primeira questão que importa perceber é que a TAP já era economicamente inviável muito antes da pandemia. Esta crise foi em simultâneo o rastilho e o bode expiatório para justificar a intervenção pública numa empresa que não teve resultados positivos desde que foi renacionalizada e que com toda a certeza não os terá na próxima década. São mil e duzentos milhões que podemos considerar perdidos. E atenção que o ministro das Infraestruturas já referiu que este “empréstimo” não exclui a possibilidade de o Estado vir a ser fiador de futuros empréstimos de privados. Ou seja, o próprio governo já assume que não vamos ficar por aqui.

A exigência feita pelo Estado aos acionistas privados de um plano de restruturação a apresentar nos próximos seis meses é só mais uma tentativa de fazer crer que há um racional económico-financeiro por detrás desta decisão. Não há. As melhores empresas de aviação do mercado vão andar anos a lutar pela sobrevivência. Para uma empresa com péssimos resultados históricos, não há nenhuma restruturação “para inglês ver” que a salve de continuar a ser aquilo que já era quando o setor da aviação prosperava: um poço sem fundo.

A pergunta que temos de fazer neste momento é se queremos continuar a desviar dinheiro da saúde e da educação, e se queremos continuar a sobrecarregar os contribuintes e a economia rentável, para esfumarmos esse dinheiro no capricho de termos uma companhia aérea de bandeira. Mas não nos aflijamos a procurar a resposta porque o governo já nos poupou esse esforço e já respondeu afirmativamente por nós.

 

Imagem de capa de Nuno Botelho