7 Novembro 2020      10:53

Está aqui

Cintura de vespa

Émilie Marie Bouchaud, mais conhecida por Polaire, num outro mundo que não é o nosso, era atriz e de muito sucesso. Viveu há muitos anos numa cidade francesa e tinha uma particularidade que fazia dela não só uma atriz muito famosa, mas também uma figura única. Polaire era uma vespa. Tinha, por isso mesmo, uma delicada e definida cintura de vespa.

Essa mesma cintura fez dela um sucesso nos palcos, fez com que viajasse a tantos lugares diferentes como Nova Iorque e Londres, sem contar com a cidade que a acolheu - Paris. Polaire era uma vespa nascida na Argélia. Já nessa altura tinha essa forma de estar e modo de se mexer tão particular que deixava todos surpreendidos.

O seu êxito enquanto cantora ficou marcado pela sua grande canção Ta-ra-ra Boom-de-ay. Além de excelente atriz, com um ar cómico, deixava todos embevecidos. Mas aquilo que a tornava especial era a sua cintura que lhe acentuava os avultados peitos.

Polaire, foi durante toda a sua vida e durante o seu tempo, um tremendo sucesso e assim morreu. Morreu de forma trágica mas já veremos porque. Uma atriz que era uma vespa, tinha cintura disso e tinha talento. Há coisas que nascem com as vespas que não nascem com outras criaturas. Isso não fazia dela, porém, um ser com feitio fácil.

No entanto, a narrativa altera-se quando falamos da morte prematura de Polaire vespa. Em todas as histórias há um mau da fita, ou uma má da fita. Neste caso era uma abelha rainha, cujas curvas não eram nada parecidas com as de Polaire. Era uma atriz desmazelada, sem talento que se tinha cruzado algumas vezes com Polaire e que a invejava de forma imensamente amarga.

Cruzaram-se algumas vezes em palco. Em todas elas, a abelha era figurante e de de baixo cachet. Porém, Zunga, a abelha, tinha, apesar de recolher mel, um amargo gosto e uma temível capacidade de prejudicar as adversárias. Quer isto dizer que a fúria de Zunga se virou para a atriz que tinha cintura de vespa e tudo o que ela almejava. Tentou sem sucesso, tantas vezes, comprar espartilhos. Assim quase como a irmã má da Gata Borralheira, não teve sucesso em conseguir vestir o espartilho. Por muito que tentasse, não conseguia. Falhou mais uma vez.

Era preciso arquitetar um plano. Era preciso deitar abaixo aquela Polaire. Polaria! As coisas já estavam polarizadas e o plano estava a ganhar forma, coisa que não acontecia com Zunga. Ia acabar com a carreira da artista.

Como? Era simples. Ia encher o palco de banha de porco para que Polaire escorregasse, caísse e não se conseguisse levantar e, de seguida, lançava um saco de farinha que lhe ficasse em cima da cintura, impedindo de respirar, apertar mais o espartilho e por fim, lançar um frasco de mel para que os animais que assistiam à sessão todos se lançassem para cima dela e, não deixando respirar, acabassem com a sua carreira.

Infelizmente para Polaire, o plano estava muito bem arquitectado e teve um resultado ótimo para Zunga. Eliminou a sua inimiga, a sua rival. Polaire morreu em palco, naquilo que mais gostava de fazer e devido à sua melhor e mais evidente característica. A sua cintura de vespa.

Zunga, mesmo com todo o sucesso na sua maldade, não passou a ser a atriz que ambicionava. Nunca teve sucesso, nem o teve o sucesso que esperava. Morreu, também ela, asfixiada, pelo espartilho que teimava em usar.