23 Março 2025      07:16

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Chuva renova Alto Alentejo, mas excesso ameaça colheitas

As chuvas intensas que marcaram o início deste ano no Alto Alentejo trouxeram um alívio significativo após um período prolongado de seca que afetou a região no final de 2024. Barragens, rios e solos recuperaram níveis de água essenciais para a sustentabilidade agrícola, mas o excesso de precipitação começa agora a gerar apreensão entre os agricultores, que temem perdas nas colheitas devido ao encharcamento dos terrenos.

A precipitação abundante, que se intensificou nas últimas semanas, foi inicialmente recebida com otimismo. Os campos, antes ressequidos, estão agora verdejantes, e as reservas hídricas, como as barragens do Caia e de outras albufeiras locais, registaram uma recuperação notável. Para os produtores de gado, a chuva trouxe benefícios diretos, com pastagens revitalizadas que aliviam os custos com alimentação animal. No entanto, nem todos os setores agrícolas partilham deste entusiasmo.

Agricultores dedicados a culturas arvenses, como cereais e hortícolas, relatam dificuldades crescentes. O solo saturado impede o acesso de máquinas para trabalhos de sementeira e colheita, atrasando o calendário agrícola. Em algumas zonas, como os arredores de Elvas e Monforte, há relatos de culturas já comprometidas pelo excesso de humidade, que provoca a lixiviação de nutrientes essenciais e o apodrecimento das raízes. "A chuva veio na hora certa, mas agora é demais. Algumas das minhas sementeiras estão perdidas", lamentou um agricultor local.

A variabilidade climática, cada vez mais evidente, coloca desafios adicionais à região. Especialistas apontam que o Alto Alentejo, tradicionalmente marcado por períodos de seca, não possui infraestruturas de drenagem suficientes para lidar com episódios de chuvas intensas. A situação é agravada pela baixa capacidade de infiltração de alguns solos, o que aumenta o risco de inundações localizadas.

A Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre já apelou às autoridades para que sejam implementadas medidas de apoio, como a melhoria de sistemas de drenagem e a monitorização das culturas afetadas. "Precisamos de soluções que nos preparem tanto para a seca como para o excesso de chuva. O clima está imprevisível", afirmou um representante da associação.

Apesar das preocupações, o cenário hídrico geral é positivo. As autoridades regionais destacam que as reservas de água estão garantidas para os próximos meses, o que pode beneficiar as culturas de regadio e a pecuária no médio prazo. Resta agora aos agricultores adaptar-se a este novo equilíbrio, numa região onde a água, seja pela sua escassez ou abundância, continua a ditar o ritmo da vida rural.