25 Junho 2022      14:30

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A chuva em dias de junho

Ontem choveu, não tanto quanto desejavam todos aqueles que da chuva se escondem, mas que a anseiam e a desejam.

Neste regresso ao Alentejo dos filhos que voltam temporariamente e que transportam consigo a alma do seu lugar de nascimento, a paz vem consigo, a necessidade de reencontro com as raízes, com os pequenos momentos, com o processo de andamento da vida e com a história dos que estão e daqueles que estiveram e deixaram o seu testemunho.

Sento-me num banco de jardim improvisado, debaixo de uma sombra, que me permite ver as nuvens brancas num céu azul tão belo que gostava que todos pudessem ver comigo. Sento-me e olho em volta atento aos sons dos pássaros que guerreiam pelos ares e que me cortam somente o som do vento nas folhas e nas árvores.

Hoje o dia está calmo, sem a chuva de junho, sem o reboliço dos dias atarefados, os meus e os da família que regressou ao Alentejo.

Dela vos volto a falar, hoje para contar momentos da chegada, sem me prolongar esta semana sobre a vida do moço e da moça, a quem regressarei individualmente nas próximas semanas.

A chegada para o resto da família foi, obviamente, um choque para todos os que de novo chegavam a uma terra. Alguns já conheciam por um ou dois meses na casa dos avós. Essa memória era, contudo, breve e algo desviada do que é viver todos os dias num mundo diferente do seu. A família era numerosa. Com o moço e a moça vinham a descendência e seus respectivos cônjuges. E deles, a sua descendência. Um casal tinha 4 filhos, outro dois. Desses seis, dois nunca tinham visto o Alentejo, nem a própria língua pareciam conhecer. Todos sabemos que os primos e os avós são aqueles que mais e melhor contribuem para o avanço do nosso idioma na vida desses novos habitantes. É neles que recai a esperança de um futuro que se espera possa mudar uma região. Talvez o sotaque seja diferente daquele que os seus avós levaram e preservaram alguns tempos, com nuances, talvez a forma de encarar a terra, a preservação da memória, os objetivos de trabalhos e de futuro sejam também eles, diferentes. Talvez não, certamente são diversos.

Os dias de chuva em junho no Alentejo são, por um lado, sinal de rejuvenescimento e por outro, a hipoteca de algumas das plantações de tomate, de pimento e outros que podem ficar danificados. Nada tem apenas um lado positivo ou negativo.

Tudo tem valências e carências. E assim começa mais uma etapa. O regresso dos que já foram parte intrínseca e hoje com os novos, se acham estranhos, marca um novo sol, que começa abençoado pela chuva.