24 Abril 2016      11:28

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CHOVEM CRAVOS EM ABRIL

"TEXTURAS"

Quando se diz que chovem cravos em Abril é posta em evidência a incontestável importância que Abril teve na história de Portugal, assim como é lançado o mote para reafirmar Abril extemporaneamente.

No dia 25 de abril de 1974, ainda não tinha nascido, portanto, não tenho na memória esse acontecimento. Eu, não. Mas, dada a actual conjuntura social, em que a pirâmide etária portuguesa apresenta uma base mais estreita do que deveria, estou inclinada a crer que a maioria da população assistiu ao despertar da democracia em Portugal.

Porém, uma grande parte parece ter esquecido a importância desse dia e a luta subjacente. E, aqui, não posso deixar de referir a galopante taxa de abstenção das anteriores eleições.

Não me interpretem mal. Não pretendo desperdiçar nem o meu nem o vosso tempo com vagos saudosismos, desprovidos de substância, porque não há nada como viver o presente. No entanto, a meu ver, é necessário reactivar a memória popular de quem já se esqueceu ou não se quer lembrar, e ensinar a quem não sabe que, sem luta, sem união, sem esforço é de todo impossível manter-se uma democracia. É imprescindível manter na memória as conquistas do passado para que, de modo nenhum, se abra mão das mesmas no futuro.

Com efeito, herdámos, no século XVIII, de Montesquieu, a base da nossa democracia, a teoria da separação dos poderes, que constitui a pedra basilar em que assenta a nossa constituição. Portanto, qualquer retrocesso nesse sentido seria imperdoável e inevitavelmente invalidaria todos os esforços prévios. Infelizmente, temos hoje um bom exemplo disso no Brasil.

Neste momento, quer parecer-me que atravessamos um clima de mudança e que é possível o diálogo, contudo, esperando que não ocorra entretanto qualquer perda de audição repentina, é necessário que haja mais do que diálogo para que a população veja nos governantes, não máquinas despóticas sedentas de poder, mas seres humanos, preocupados com os seus conterrâneos. Preocupados também com a multidão de refugiados, que, desenganem-se alguns, não andam a fazer turismo pela Europa, carregados de jóias e outras frivolidades. Andam literalmente a lutar pela vida. E mais uma vez, como argumento mais racional, refiro a nossa envelhecida pirâmide etária.

Concluo dizendo que é necessário recordar os benefícios que nos trouxe Abril. Na verdade, é fundamental e não é de todo altura de esquecer. Pelo contrário, é fulcral retirar da estante dos troféus os cravos bafientos e ficar atento porque a democracia é da responsabilidade de todos.

Caros leitores, não se esqueçam que em Abril, cravos mil.

 

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