8 Abril 2018      11:24

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Catherine Breillat, a escritora…

Em caso de dúvida – o que não deixa de ser compreensível –, que se aprove o cinema de Catherine Breillat. E isso porque entende o campo das imagens como um espaço central de afirmação da mulher como entidade independente, decidida e sexual. As dúvidas e, se quisermos, hesitações das suas personagens existem como evidência para o mais do que atempado (necessário) contraditório ao status que impõe a mulher como ser a purificar. Breillat é mulher e acredita na penetração e na busca do prazer - e não como elemento de resposta, mas de descoberta e posterior certificação. No mundo sonhado por Breillat, talvez a menina de dezoito anos devesse aguardar calmamente no quarto pelo seu futuro primeiro amante, que entraria pela mão da sua mãe. Não acontecendo assim, tal rapariga tem de partir à descoberta. E parte.

Mas talvez exageremos na premissa.

Dito isto, foi-nos dado a perceber que uma parte substancial - para não dizer a maior - da sua fama na França natal resulta do seu trabalho como escritora. Tentámos, e foi uma aterradora desilusão. Escreve ao contrário do que filma. Verte palavras que não são emoções ou sequer necessidades. É académica sem ser astuta. Escreve bem, mas é como se se dirigisse a uma plateia acabada de sair de um baile de máscaras. Os risos, a existirem, vão para o lado e degeneram em tosse. Faz (de forma errada) na literatura o que Jean-Claude Brisseau faz (e neste caso muito bem) no cinema. Intelectualiza o sexo.

Mas no cinema, quanto ao sexo, por assim dizer, cerebralizado, temos a hipótese do corpo mostrado para criar a distância, o pólo de oposição, ‘eis o corpo, agora pleno e belo e em breve fora do seu território, mas ainda belo’. A imagem permite a objectivação do contraste entre esses dois olhares: corpo exposto – filosofia do sexo.

Na escrita de Breillat, a hipótese filosófica não funciona, perde-se em si própria e, sem o corpo exposto do seu lado, apenas revela pedantismo; e passadas algumas páginas o leitor começa a irritar-se; ao fim de trinta já não lhe perdoa e fecha o livro. Foi o que nos aconteceu… não menos presunçosos.

 

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